
Lautner’s Effect – Capítulo I
*** Los Angeles – Maio de 2013***
Focalizei minha Canon DSLR mais uma vez sobre as silhuetas sombreadas de um casal de velhinhos sentados em um banco no meio da praça central. Ouvi os cliques repetitivos, porém discretos da lente capturando as imagens, as quais depois eu passaria horas agradáveis escolhendo as melhores.
A câmera profissional havia me custado os olhos da cara, a raspa do fundo da minha conta bancária, mas ela valia cada centavo gasto nela. Afinal, eu não passei os últimos quatro anos estudando fotografia, para continuar trabalhando de garçonete, não é?
Eu sabia o quanto essa profissão era difícil, mas quando se pode fazer o que se gosta, as dificuldades de tornam menos dolorosas de suportar.
Suspirei quando meu celular vibrou em meu bolso. Eu nunca conseguia ficar em paz por muito tempo.
— Oi, Derek. – resmunguei ao meu recente ex-colega de trabalho.
— Também estou feliz em falar com você. – respondeu igualmente mal-humorado. – Eu me pergunto porque ainda te ligo, se sempre recebo esse tipo de ingratidão...
Respirei fundo.
— Fale querido, sou toda ouvidos! – disse novamente com uma voz docemente forçada.
Ele riu.
— Você é impagável! Estou ligando porque Michael e eu combinamos de sair mais tarde, ir num cinema ou dançar... o que acha? Quer vir com agente? A Sharon também vai ir...
Considerei por alguns momentos a minha resposta, procurando dizer algo que não fosse chateá-lo. Enquanto trabalhei na X-Factory, nós saímos juntos duas ou três vezes, e tivemos um envolvimento rápido. Nada muito significativo pra mim, e eu rapidamente arquivei a lembrança com a etiqueta “Loucuras Que Você Faz Quando Está Alcoolizada”. Eu não conseguia sentir por ele nada mais que uma amizade singela, apesar de seus lindos olhos verdes e personalidade cativante. Além do mais, ele era meu colega de trabalho, praticamente meu chefe de setor e essa era uma ótima desculpa que agora não podia usar mais.
Só que Derek não era uma pessoa que desistia facilmente.
— Hum... eu acho que não posso Derek. Desculpe. Minha situação financeira não anda me permitindo passeios e farras...
— Se é só isso que te impede, não tem com que se preocupar. Eu pago pra você.
— Você acha mesmo que vou me sentir bem com você me bancando? – ralhei com ele enquanto enfiava minha câmera em minha bolsa.
— Mas é só por hoje. Depois você pode me ressarcir, com juros se achar melhor! – a inocência em sua voz deixaria qualquer uma encantada. Qualquer uma menos eu já que eu conhecia bem seus truques e sabia qual eram as reais intenções por trás destas palavras.
— Desculpa, mas vou passar esta. Fica para a próxima está bem? – eu disse, enquanto jogava minha mochila em meus ombros e começava a andar pela calçada até a faixa de pedestres.
— Ok. – ele respondeu  - Então... eu passo em sua casa outro dia pra gente se ver.
— Tudo bem.
— Até mais.
Desliguei o telefone e olhei para o céu lamentando a partida do sol. As luzes do dia haviam-se ido e eu não tinha aproveitado quase nada.
Havia saído da lanchonete onde cumpri meu último dia de trabalho cedo, ás 17 horas, mas havia sido o dia mais longo de minha vida. Quando chegou a hora de largar meu avental, e sair pela porta da frente, me senti como um presidiário condenado, que saia a primeira vez em anos pra visitar a família no Natal.
Eu sei, eu estou sendo dramática. Mas eu havia crescido no interior de Nebraska e quando vim para Los Angeles o esplendor da cidade grande foi rapidamente ofuscado pela exaustiva carga de trabalho e estudos, então minha real folga começava agora.
Não queria nem pensar no que minha mãe falaria se soubesse que sai do meu emprego. Eu conquistei minha independência logo cedo, e assim que completei a maior idade, tomei as rédeas de meu futuro profissional já que minha mãe estava ocupada demais tratando da cirrose hepática de meu padrasto alcoólatra, para ter dinheiro ou mesmo se preocupar com a faculdade da filha única. Mas eu sabia que ela iria surtar com meu abandono de trabalho.
Fui caminhando para casa, não era longe, apenas alguns quarteirões. Mas mesmo se fosse distante eu teria que ir andando, para economizar o pouco de dinheiro que tinha. Minha situação financeira não estava em seu melhor momento. Largar meu emprego não havia sido a melhor decisão que tomei em minha vida, mas de que outra forma eu me empenharia na minha real vocação? Eu precisava de um incentivo, e quer incentivo maior que ficar sem dinheiro?
As luzes automáticas dos postes começavam a se acender e muitas pessoas ainda voltavam do trabalho, mas mesmo assim eu acelerei meus passos. Não gostava de ficar até tão tarde na rua. Compton, o bairro onde eu morava, era considerado o mais calmo da periferia de Los Angeles, mas sempre há as exceções e eu não queria fazer parte de nenhuma estatística.
Não demorou muito e eu cheguei ao velho prédio, onde aluguei um apartamento de quinta. Não era o lugar que minha mãe escolheria, mas era o que eu podia pagar, mesmo que atrasando algumas vezes. Eu tinha sorte do senhor Jones ter tanta paciência comigo.
Subi um único lance de escada, que dava para um corredor estreito que levava até meu apartamento no fim dele. Neste momento, não havia nada que eu desejasse mais que uma ducha quente, esquentar uma sopa no microondas, e me sentar em meu velho computador para selecionar minhas fotos.
Quando estendi a mão para alcançar a maçaneta, uma folha branca com letras pretas e formais chamou minha atenção:  

Eu li repetidas vezes as poucas linhas ali durante alguns momentos, antes de olhar em volta para as outras portas. Não havia nenhum recado pregado nelas, provando que este era direta e unicamente para mim.
Meu coração se apertou e tive que respirar fundo para manter a calma. Meu prazo vencia hoje. Mas o senhor Jones sempre tinha sido muito compreensivo comigo, porque isso agora?
Arranquei o pedaço de papel da porta e caminhei com passos rápidos até as escadas e desci até a porta do meu síndico. Ele tinha que me dar um tempinho a mais! Eu não podia pagar agora, e se fosse despejada não teria para onde ir!
Bati com mais força do que deveria na porta do senhor Jones e ela rangeu em meio as batidas de tão velha que estava. Apurei os ouvidos para tentar escutar alguma resposta vinda de dentro, mas não houve nada. Bati novamente com mais força ainda, devido ao meu nervosismo. Ainda nada.
Estava prestes a bater outra vez, quando a porta de abriu e o velho sindico careca de meia idade, apareceu entre os batentes. Ele me encarou com os olhos reprovadores, por cima dos óculos fundo de garrafa, as rugas da testa mais fundas do que o normal.
— Onde é o incêndio? – perguntou com voz critica, mas ele claramente sabia sobre o que eu queria lhe falar.
— Desculpe, senhor Jones. Eu vim conversar com o senhor sobre isto. – ergui para ele com mãos trêmulas a folha, mas ele não fez menção de pegar.
Apenas olhou o pequeno de pedaço de papel em minha mão e tornou a me fitar.
— Diga. – ele disse, sem me convidar para entrar.
Eu molhei lábios com língua. 
— Eu sei que estou atrasada... de novo. Eu vim me desculpar e pedir que o senhor me dê alguns dias. – minha voz soou baixa ante o olhar que ele me dava. Algo me dizia que ele não faria acordos hoje.
Seus olhos cinzentos me sondaram por um momento antes dele dizer.
— Amélie, quando você veio morar aqui, o acordo era “sem atrasos”. Mesmo assim, toda santa semana, você tem uma desculpa diferente para não pagar. Eu tolerei isto porque você estava empregada. Mas agora eu sinto muito, mas não posso abrir exceções pra você.
Engoli em seco. Eu sabia que ele ia me dizer isto, mas eu tinha fé que ele me daria mais uma chance.
— Mas eu estou empregada, senhor Jones! Estou trabalhando por mim mesma agora e...
— E desde quando tirar fotos na praça é um emprego de verdade? Eu não tenho nenhuma garantia de que você continuará pagando o aluguel, se quando estava com emprego fixo, já havia atrasos!
Respirei fundo duas vezes. 
— Por favor, senhor Jones! Eu prometo que vou tentar ser pontual! Garanto que o senhor não sairá prejudicado!
— Me desculpe Amélie, mas eu não posso manter minha família com promessas. Ou você arruma um emprego, ou desocupa o apartamento. – decretou antes de fechar a porta, sem me permitir mais argumentos.
A porta se fechando, marcava enfim minha ruína. Onde eu arrumaria dinheiro para pagar o aluguel desta semana? Sem pensar minhas mãos foram para minha câmera pendurada ao lado do meu corpo. Havia gasto cada centavo nela, e valia a pena! Mas a grande droga é que o retorno não veio com a rapidez que eu esperava.
Como eu poderia imaginar que meu sindico me daria um ultimato destes? Do que me adiantava ter conseguido alcançar meu sonho, se ele não conseguia nem manter um teto sobre minha cabeça? 
Subi as escadas com pés pesados e um nó em minha garganta. O que eu faria agora? Eu gastei muitos sapatos espalhando currículos e passei horas na internet encaminhando e-mails a toda e qualquer empresa que necessitasse de alguém que soubesse usar uma câmera, mas não havia obtido nenhuma resposta.
Não imaginava que seria tão difícil exercer minha função, mas isso não me surpreendia. Tomar atitudes impulsivas e impensadas era o meu forte, mas infelizmente isso não era uma qualidade.
Pedir dinheiro a minha mãe era algo totalmente fora de cogitação! Ela me faria voltar para Nebraska num piscar de olhos e eu não estava nem um pouco afim, de ser novamente sustentada pela senhora Margaret Davis e servir de enfermeira novamente para o tarado e agonizante atual marido dela.
Suspirei quando a porta de meu quarto se fechou atrás de mim. Olhei em volta para minha aconchegante desordem e já sentia falta do lugar, sem nem ter saído ainda. Eu possuía poucas coisas, mas eram minhas coisas e eu não queria desfazer de nenhuma delas. Senti meus olhos queimando, mas me recusei a chorar. 
Lágrimas não fariam cair dinheiro do céu, sem contar que nenhum alivio viria após elas. Apenas a culpa por ter me deixado ser tão fraca a ponto de me deixar abater por um problema tão pequeno.
Mesmo tendo ciência disto, eu sabia que não conseguiria ficar aqui, olhando as paredes.
Peguei meu telefone em meu bolso e apertei redial. Chorar não me traria o alívio que eu precisava, mas talvez algumas doses de tequila, trouxessem.
— Oi, Derek. – eu disse quando a voz dele soou do outro lado da linha. – Acho que vou aceitar aquele convite ... 
• • •
Eu não estava exatamente sóbria, mas também não estava caindo de bêbada, como o olhar de meu amigos sugeriam. Eu tinha certeza de que minha tontura e olhar turvo tinham a ver com as luzes cegantes e malucas da boate.
— Acho bom você se acalmar. – a voz alegre de Sharon soou abafada acima da música ensurdecedora. – Mesmo sendo uma descendente de pirata, nunca conseguirá secar toda a bebida de Los Angeles!
Ela riu após sua piada pessoal, e eu não fiz nada mais que lançar um olhar raivoso para a ruiva esbelta sentada à minha frente.
Já Derek gargalhou enquanto pegava a garrafa que minha mão tentava alcançar.
— Não sei não, Sharon. Acho que ela já está bem perto de conseguir este feito... — ele disse.
Mostrei a língua para eles.
— Vocês são uns babacas! Eu disse que precisava beber, e vocês se propuseram a pagar. Então, agora arquem com as consequências! – resmunguei tomando de volta a garrafa da mão de Derek e me levantei arrastando Sharon comigo.
Michel não dizia uma palavra, apenas ria e balançava a cabeça negativamente.
Eu e Sharon atravessamos a pista em direção aos banheiros, esbarrando em algumas pessoas no trajeto. Fiquei aliviada quando entramos e o som ficou abafado dentro do pequeno espaço.
Sharon tomou a garrafa de minhas mãos e começou a arrumar os cabelos cacheados diante do espelho.
— Não sei o que você está tento provar Ly, mas a mim você não engana. Qual é o problema? – ela perguntou sem olhar para mim.
Eu bufei teatralmente.
— É preciso ter algum problema para querer encher a cara com os amigos?
Sharon girou, encostou-se na pia e apenas me encarou por uns instantes. Eu revirei os olhos e entrei cambaleante em um dos banheiros, para fugir daquele olhar. 
Ela me conhecia bem demais, para que eu conseguisse esconder algo dela. Trabalhamos juntas por quatro anos e entre discussões e desencontros, construímos um bom relacionamento ali. 
Sharon se preocupava comigo, como uma irmã mais velha e até como mãe algumas vezes, o que para mim era o suficiente para amá-la o resto da minha vida. Nunca tive ninguém que se preocupasse exclusivamente comigo, sem interesse de ter algo em troca. Minha mãe sempre se preocupou mais com a própria vida e seus desencontros amorosos, do que comigo. Ser cuidada depois de tanto tempo, era um alívio e uma surpresa.
Quando retornei, ela ainda estava na mesma posição, mas seus olhos não eram mais especuladores e sim sapecas.
— Sabe, eu acho mesmo que você deveria dar uma chance para o Derek.
Suspirei quando ela tocou num assunto que já foi discutido inúmeras vezes.
- De novo isso, Sharon?
— Ah qual é, Amélie? – ela reclamou — Ele é educado, tem um bom emprego, boa família ... 
— “É independente, te trata bem, se importa com você e além de tudo é muito gostoso!”. – eu continuei o discurso que ela sempre fazia, imitando a voz e o jeito dela, o que a deixava furiosa. - Eu sei de tudo isso!
Ela comprimiu os lábios.
— Se sabe, então o que você está esperando? Metade das mulheres queriam ter a sorte de encontrar um cara assim... sem contar que ele daria um jeito em sua vida financeira. — concluiu com um sorriso cínico.
Suspirei novamente. Eu nem sabia onde eu iria morar pelos próximos dias, quanto mais se queria ou não ter algo com quem quer que fosse. Estava bêbada demais para ter este tipo de conversa. Minha cabeça rodou e parecia que a tequila queria voltar para a garrafa.
— Sharon, pode me dar sermão outro dia? Acho que deu a hora de eu ir para a casa...
Ela me abraçou pelos ombros e me levou de volta à mesa sem tornar a tocar no assunto.
— A marinheira está pronta para ir pra casa! – ela anunciou com seu humor sádico.
Saímos da boate e eu podia ouvir ao longe as piadinhas sobre garotas bêbadas que meus amigos faziam. Devo ter dormido no carro, porque não vi nem ouvi mais nada, até perceber que Derek me colocava em minha cama, já no meu apartamento. 
Ele acariciou meu rosto e me deu um beijo em minha testa antes de sair.
Ótimo! Uma excelente fim de noite, ser carregada bêbada pra casa e ainda me sentir culpada por Derek ser tão gentil comigo e eu não ser capaz de oferecer nada em troca.
Meu último pensamento antes de cair na total inconsciência, foi desejar que o dia seguinte fosse melhor, não fosse tão péssimo quanto este.
• • • 
REAJA: Seu comentário é o pagamento da autora. ♥
![Taylor Lautner JB [FANFICS]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHTGoIs8t1Lp70uOln0Mvys0kDTuSwodnnn_m8k3UTZCwtzHg19ZdtvP9Ceb8kjaD18t_W08EgJYiFFDWTwHB1EzNfes3GhhrAtG6C5m1d7lOUwkOT0sqkz5hNwLqlLBY_ptJEtrDtfok/s1600/tljb+fanfics.png) 


