Capítulo – O som do coração
POV Sam
O coração do Embry ainda batia, e eu procurei ser rápido, não sei se eles o morderam, mas podia ver o quanto ele estava ferido, seu corpo com partes dilaceradas, eu mal podia ver seu rosto que estava deformado.
Eu não via ninguém nem nada na minha frente quando o peguei em meu colo, a sanguessuga dizia para eu levá-lo para a mansão, pois lá poderíamos usar as coisas do doutor, mas eu não queria, não queria meu irmão naquela casa.
Irmão... Belo irmão eu fui para o Embry, nunca o tratei como um irmão de verdade, irmão de sangue, algo além da matilha, saber que meu pai, aquele canalha fez com ele o mesmo que fez comigo, como ele pôde? Mas agora não posso condená-lo quando eu mesmo tenho cometido esse erro com ele.
Minha casa parece distante, já estou quase correndo, mal consigo ouvir seu coração, dou mais uma olhada nele para me certificar de que ainda esteja respirando.
–Aguenta Embry!
Parecia que havia se passado uma eternidade até que vi finalmente a entrada da minha casa e então ao passar por ela pude ouvir vozes ao longe, de desespero, de raiva, um uivo triste.
Leah veio correndo, gritando, mas eu não poderia parar, acabei até sendo rude com eles, que vinham de uma forma desesperada ajudar.
–Saiam da frente. Sai Leah! - eu disse enquanto ia entrando com ele, subindo as escadas de dois em dois degraus para chegar ao meu quarto mais rápido, metendo o pé na porta que se abriu num rompante estrondoso ao bater violentamente contra a parede.
Coloquei Embry sobre a cama e Leah veio para ele numa nítida tentativa de tirar dele um ruído, um murmúrio qualquer de que estava bem, mas isso não aconteceu.
–Embry... Meu amor, não! Embry fala comigo... O que aconteceu com ele, Sam? Amor, fala comigo! - Leah tentava falar com ele.
Eu precisava ser forte, nada de lamentações nessa hora, isso não seria apropriado e só iria dificultar o socorro. Assumi minha postura forte de Alfa, mesmo que por dentro tudo esteja terrivelmente abalado.
–Emily... - gritei.
Quando olhei, ela já entrava pelo quarto com várias gazes, panos, uma bacia com água, como uma mãe que cuida de seu filho.
–Eu vou chamar meu pai. - Jared saiu correndo, olhei para Jacob e Quil e apesar do desespero em seus olhos, entenderam com o meu olhar o que seria melhor para se fazer.
Jacob usou um tom autoritário:
–Seth, Paul tirem a Leah daqui, ela só vai atrapalhar.
Leah estava aos pés da cama acariciando Embry e quando Seth e Paul fizeram menção de pegá-la ela urrou...
–Não! Eu quero ficar com ele!
–Leah, por favor! O Sam precisa cuidar dele. - Seth disse a ela, mas Leah se debatia contra o irmão se recusando a sair.
–Leah! - Jacob urrou com um tom de Alfa mais forte.
–Ele é meu companheiro Jacob... – ela disse em meios às lágrimas.
–E que precisa de cuidados, você está desesperada, aqui só irá atrapalhar. -Jacob foi duro, como deveria ser.
Relutante Leah saiu amparada pelo irmão, os demais me olharam, vacilei por um momento.
–Precisamos tirar essas roupas rasgadas dele, limpá-lo. Logo o fator de cura vai agir.
Emily deu a ordem, começava a nossa luta para salvar Embry, ele perdia muito sangue, nós nem sabíamos por onde começar, mas precisávamos fazer alguma coisa.
–Que diabos aconteceu, Sam? - Quil me perguntou.
Eu olhei para o Embry, minha voz saindo mecânica:
–Foi uma emboscada, quando cheguei lá a sanguessuga loira estava lutando com dois vampiros, ela me avisou sobre o Embry, mas quando chegamos já era tarde.
Passei as mãos pelo rosto involuntariamente, um gesto que sempre fiz quando estava nervoso ou preocupado, depois as olhei assustado à medida que senti o sangue fresco em meu rosto, fiquei atônito olhando para minhas mãos banhadas com o sangue do meu irmão, senti uma taquicardia, me levantei me afastando um pouco, ainda olhando minhas mãos sujas de sangue, sujas com o elo, aquilo que nos uni e sempre nos uniu antes mesmo disso tudo de lobo.
–Meu irmão... - sussurrei, quando na verdade a pequena frase saía contestando aquilo que desde que Embry se transformou eu omitia de mim mesmo.
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POV Bella
Vivi tudo novamente, eu vi meu Dean no colo do Sam, ferido, morto, a impotência, dor.
Olho para Leah chorando, desesperada nos braços de Seth que pede que ela se acalme, olho para Rachel que está em outro canto, mãos juntas, quieta, ela faz uma oração, Paul vai até ela consolando-a.
Kim está na cozinha e vem com um copo de água com açúcar para entregar a Leah que está inconsolável.
–Meu Embry... Meu Embry, se ele morrer eu morro com ele, Seth.
Não consigo mais viver aquilo, mais um que eu amo, mais uma pessoa importante na minha vida, meu amigo que, assim como Jacob, sempre esteve tão presente em minha vida.
O cheiro de sangue misturado a lamúria e o choro de Leah estavam me fazendo mal, meu coração se aperta, respiro com dificuldade e então acabo saindo para a varanda. Sentindo novamente os fantasmas apertarem meu pescoço vindo cobrar de mim, me mostrando a minha culpa, pois tudo é culpa minha.
Me seguro fortemente na cerca da varanda cravando minhas unhas na madeira, abaixo minha cabeça, tenho que ser forte, tenho que me controlar.
–Bella... Shh... Calma. - sinto mãos carinhosas me afagando as costas tentando me animar, era Ângela que de alguma maneira veio me consolar.
–Eles vão ser mortos, Angela. - eu sentia aquilo, os lobos seriam facilmente vencidos, o que eu fiz? Eu não só condenei Dean, como a todos.
Maldito seja o dia que eu disse sim a Edward, maldito seja o dia que voei até a Itália para salvá-lo, maldita seja eu, covarde, que nunca tomei a decisão mais correta que seria ter ficado com Jacob desde o começo.
Angela aperta meu braço me virando para ela rispidamente, e eu vejo raiva em seu olhar.
–Se você falar isso novamente, Bella... – ela disse em tom ameaçador, mas respirou fundo. -É para isso que serve nossas pesquisas, para descobrirmos algo que possamos usar contra esses monstros.
Eu me desvencilhei de seus braços, a encarando.
–Está se iludindo Angela, se agarrando a uma hipótese, algo que não existe.
–Sim, eu estou! Enquanto existir um talvez, eu me agarrarei, não vou desistir, e se tiver que pegar um rifle e ir lutar eu lutarei, morrerei pelo Quil, pela matilha... Mas eles não vão me vencer sem eu lutar antes, Bella, não vou cair de joelhos e chorar.
Angela levantou a cabeça com um olhar forte, mas não conseguia seguir a mesma linha que ela, seu olhar era de alguém determinado, mas como conheço e bem os vampiros, pois vivi entre eles por certo tempo, sei de seus hábitos, eles são perfeitos, sem nenhuma falha sequer, forjados com a perfeita característica de um predador, nos olhos da Angela eu vejo determinação, mas também ingenuidade, percebo que ela não faz a menor ideia de com o que está lidando, Angela era uma sonhadora, uma ingênua.
–Queria ter esse pensamento Angela, mas tudo o que vejo é o quanto eles estão a nossa frente, eles serão massacrados .
As lágrimas escorriam diante da realidade que eu tinha.
–Jacob tem razão, seu pensamento ainda é o da mesma Bella de antes, você continua sendo a garota dos vampiros.
Ao me dizer isso Angela se vira indo novamente para dentro, mas antes de entrar ela para e me olha em silêncio, me deixando, não precisava falar mais nada.
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POV Cameron
Eu já vi muitas coisas, já vi companheiros de tropa padecerem em minha frente, você sente, pois de certa forma quando está numa guerra os caras que estão ali servindo com você passam a ser sua família e até mais, pois você acaba confiando sua vida a eles.
Confiar sua vida a eles. É estranho, e até meio macabro entregar sua vida nas mãos dos outros, mas em uma guerra é assim, você cria laços de amizade, irmandade, com pessoas que nem ao menos conhece, e aquele cara que você conhece apenas há duas horas pode ser o cara que vai salvar sua vida em questão de minutos.
Filosofia da guerra, amigos.
Antes de entrar na casa do Sam eu já podia ouvir o choro da Leah, via a Bella na varanda, e detalhista como sou a via em sofrimento, ao ponto de cravar suas unhas na madeira que servia como um pequeno cercadinho em volta da varanda.
Entrei apressado, seguindo o Jared que era mais apressado do que eu, Leah iria me parar, mas não dei chance a ela, subi correndo as escadas com meu filho a minha frente pulando de três em três degraus, e quando entrei no quarto... Vi um filme da minha vida onde voltei ao Vietnã, ainda um garoto inexperiente... Vi Emily a frente de tudo, tentando conduzir Jacob e Quil, ela lhes dizia para limpá-lo e ver onde estavam as feridas abertas e poder pressioná-las para que estancassem o sangue, o que era o correto a fazer, olhei mais a frente e Sam estava de pé, sem ser notado por todos, dado a situação de Embry, ele estava olhando para suas mãos, o rosto e corpo ensanguentados, seu olhar para as mãos ensanguentadas era nítido para mim, ele estava entrando em choque, o que era natural para alguém que nunca tinha presenciado tal coisa, principalmente quando se está envolvido alguém próximo.
Dei uma olhada rápida para o Embry e a situação do menino era de dar dó, sem perder nenhum minuto de tempo, pois este era crucial, retirei meu chapéu o jogando de qualquer maneira, coloquei a maleta de primeiros socorros no criado-mudo que ficaria bem perto de mim, nela eu teria tudo que precisaria nesse momento... Eu acho.
–Graças a Deus o senhor chegou! - Emily me disse aflita parecendo que eu era o salvador.
Vi que ela e os demais tinham coordenado muito bem a situação.
–Não sou médico, mas que os deuses nos ajudem, precisamos estancar o sangramento e fechar suas feridas.
Abri minha maleta pegando um pouco de morfina e apliquei nele, comecei a averiguar seus ferimentos. Sam ainda estava parado.
–Samuel! Eu preciso de você, meu alfa! – disse firme o olhando, Emily foi até ele, o segurando pelos braços e também no mesmo tom que eu usei ela o chamou...
–Sam! Sei que está assustado, ele é seu irmão... Mas nós precisamos que você se mantenha firme.
Sam olhou para Emily, depois olhou para as mãos e piscou três vezes voltando à realidade, ele se moveu rápido vindo até nós.
Voltei minha atenção para o Embry, mas algo muito estranho nos chamava a atenção.
–Pai, ele não deveria estar com essas feridas abertas, porque elas não fecham? – Jared disse, por um motivo que eu não podia explicar, o fator de cura dos lobos não estava funcionando no Embry, ele parecia um humano normal.
–Eu não sei filho... É como se... Se ele não fosse mais um lobo.
Mas mesmo assim ele ainda lutava.
–Vamos tratá-lo, fechar suas feridas, depois vamos ver melhor o que está acontecendo. - Jacob disse nos olhando, assenti voltando minha atenção ao trabalho, era difícil, tínhamos que segurar a ferida aberta, unindo a carne para que eu pudesse costurá-la, estava terrível, sua perna estava pior, havia ossos quebrados, o trabalho foi muito difícil.
Quando terminamos tudo o levamos para outro quarto que a Emily arrumou, colocamos ele lá e ficamos em sua frente o olhando.
–E agora? O que faremos? - Quil me perguntou.
Olhei para o rosto de cada um dos meninos vendo seus olhos, estavam com medo, aflitos.
–Não podemos fazer mais nada, agora é com ele.
Fiquei olhando para o Embry, o estado em que se encontrava , respirei fundo, dentro de mim havia uma torrente de emoções... Eu olhava cada um daqueles meninos... Jacob parecia forte, mas seus olhos o denunciavam, vi não os olhos do lobo, mas o do Jacob de antigamente, do menino que conheci desde que usava fraldas.
–Vamos deixá-lo um pouco, nos limpar, os demais devem estar preocupados, Leah... Deus, minha prima! - Emily disse sem parar, Sam caminhou até ela, que estava tremendo, ela limpava sem parar, nervosamente, suas mãos trêmulas e então desabou... -Oh Sam, o meu menino... Meu menino.
–Shh, fica calma, meu bem... Ele vai sair dessa. - Sam lhe disse enquanto a abraçava e deixava as lágrimas caírem junto com as dela, os dois tremiam.
Olhei para os meninos, e eles foram saindo, era um momento deles, precisavam daquilo, colocar tudo pra fora, seus medos, para depois na frente dos demais serem os guardiões desses meninos, dessa matilha, fortes, sem medo.
Os meninos foram até o banheiro no final do corredor se limpando, assim como eu, descemos a escada encontrando todos ali preocupados, Leah levantou-se vindo até nós.
–Como ele está? - ela perguntou aflita.
–Agora é com ele Leah, já fizemos o máximo que podíamos. - Jacob disse.
–Por favor, me deixe vê-lo, me deixe ficar com ele. - Leah nos pediu angustiada.
–Claro que pode, mas vá com calma Leah. – Sam disse.
Ele e Emily já estavam mais tranquilos.
Leah subiu com Seth enquanto nós todos fomos para a sala, o velho Ateara estava lá, assim como os demais... Nos sentamos, no olhar de cada um de nós existia o mesmo sentimento.
Jacob se sentou, fechando os olhos, massageando suas têmporas, todos estávamos calados, Bella foi até ele sentando ao seu lado, ele apenas a olhou.
–Eu preciso de uma bebida. – murmurei.
Sam prontamente me trouxe um pouco de whisky, eu pego dando um grande gole, meu pensamento estava longe enquanto olhava o líquido no copo, mas eles voltaram ao ouvir Angela:
–Quil o que houve com suas mãos?
Levantei meus olhos até o Quil que olhava as mãos as movimentando, enquanto fazia uma cara de quem sentia uma leve dor.
Angela segurava as mãos dele enquanto ele falava:
–Nossa, estão ardendo, parece até que estão queimadas.
Ele foi até a pia da cozinha as molhando, mas para o nosso espanto Jacob e Jared também tinham as mãos com a mesma ardência, já Sam se estendia para braços mãos e peito.
–Mas que diabos está acontecendo? - Jared falou me olhando, comecei a olhar suas mãos, estavam com a pele vermelha, bem irritada, assim como os demais.
Parece uma alergia, não sei explicar, mas o que é mais estranho é o fato de apenas Sam, Jacob, Quil e Jared estarem com essa espécie de irritação, no caso do Sam ela parece maior.
Nos entreolhamos, todos confusos, já estávamos exaustos física e emocionalmente e agora ainda tinha aquilo... Não fazíamos ideia do que estava acontecendo e isso assustava!
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Makah
Uma densa névoa desceu sobre a reserva Makah logo no cair da noite, não se podia ver nada a meio metro adiante, nem a lua ou as estrelas do céu, as corujas começaram o seu cântico, deixando o ambiente da reserva tão sombrio que muitos ali invocaram proteção.
Era algo de fazer os ossos tremerem, fazia um calafrio percorrer a espinha dos mais corajosos.
Por sua experiência não temia, pelo contrário, Bisa acendeu sua lareira , foi até sua cozinha preparar um chá e enquanto a água esquentava, seu telefone tocou a irritando.
Praguejou um xingamento no dialeto antigo, odiava essa tal de tecnologia, por causa dela muito se perdeu, o ser humano se tornou mais frio sentimentalmente, mais ganancioso, sentia falta das noites em que se sentava a beira de uma fogueira e ouvia os velhos contos, histórias de heroísmo, de grandes guerras.
O maldito aparelho tocava irritantemente para ela, só aceitou aquela pequena e irritante porcariazinha porque sua Emily, juntamente com Sam, a convenceram lhe dizendo que pelo menos poderiam se falar sempre, quando sentissem saudade.
–Hunf ... - ela dizia. -Estou indo, estou indo!
Quando atendeu viu que era sua neta, aflita.
–Vovó, está tudo bem?
Bisa pensou em uma resposta bem malcriada do tipo: “Não, eu morri e meu espírito atendeu ao telefone.”
–Está, e você, porque ligou?
–Essa névoa está tão densa, fiquei preocupada em a senhora estar sozinha, se quiser Alan pode ir até aí lhe buscar e a senhora ficaria aqui até essa névoa ir embora.
Bisa fez uma careta, odiava quando as pessoas achavam que ela era uma velha incapacitada de ficar sozinha em casa.
–Não me diga que está com medo dessa nevoazinha?!
–Nevoazinha? Vovó não se dá para enxergar a ponta do nariz.
–Ah, não seja tão exagerada, está tudo bem. Estou preparando um bom chá, já acendi a lareira, ficarei bem.
–Tem certeza vó?
–Absoluta, fiquem todos bem.
Escutou o suspiro longo de sua neta, que sabia muito bem que ela não sairia de sua casa, ainda ouviu algumas recomendações, mas graças ao assovio da chaleira que mostrava que a água estava fervendo, pôde desligar o telefone.
Bisa caminhou até sua cozinha, preparou seu chá, uma boa caneca, e voltou para a sala, antes que se sentasse em sua velha cadeira de balanço sentiu uma pontada de nostalgia ao ver a velha fotografia em cima da lareira, seu falecido marido, sorriu levemente acariciando a foto, era um bom homem, lhe deu filhos maravilhosos, descendentes de bravos guerreiros, para ele a tradição sempre estava acima de tudo, foi um bom amigo, se lembrou do dia da sua passagem, em que ele dias antes lhe dizia:
–Você sempre foi a minha melhor amiga Abigail , obrigado por me respeitar, pela família que me deu, sinto por nunca a ter conquistado além da amizade.
Amizade... Essa palavra... Ela se lembrou de coisas antigas, velhos amigos.
Foi até um pequeno armário que existia na sala onde guardava anotações, receitas de ervas, pegou um velho álbum de fotografia, sentou, agora sim, em sua cadeira e enquanto o chá esfriava um pouco, abriu o velho álbum, fotos antigas de sua adolescência, sorriu ao ver uma foto. Era ela com seus 15 anos, ao seu lado dois rapazes da mesma idade, mas que eram de outra reserva, Charles Uley de braços cruzados ao seu lado e um sorriso que teimava em brotar nele que tentava ficar sério, e outro rapaz baixinho... Ateara...
Ela se lembrava desse dia com alegria, eles sempre foram seus dois melhores amigos, sempre se metiam em confusão, se lembrava de quantas broncas levava de sua mãe que lhe dizia que teria que levar a vida mais a sério, seu lugar na reserva de seus descendentes, e que não ficava bem ela estar sempre acompanhada de dois garotos. Já seu pai achava que melhor companhia para ela não poderia ter.
–Vamos Abi. A água está uma delícia.
Bisa ouvia nitidamente as risadas dos três ecoando pela casa, ouvia a voz de Charles a chamando.
–Eu a desafio a pular deste penhasco. - dizia Ateara.
–Está me desafiando, Quil?
Bisa fechou seus olhos vendo a imagem sendo reproduzia por sua memória, ela, Quil Ateara e Charles Uley estavam no penhasco, Charles já havia pulado, ela estava junto com Quil que insistia para que ela pulasse, nunca gostou de alturas e os dois garotos sabiam disso.
–Sim, estou te desafiando.
–Para me fazer pular você precisa me convencer e bem. - ela dizia, Quil lhe sorriu.
–Pois tenho uma boa proposta que é irrecusável, mas somente se você pular irei cumprir.
Abigail sorriu, os olhos brilharam.
–Então me diga, o que é?
Quil sorriu olhando a garota na sua frente que os olhos brilhavam como se estivesse a esperando um doce.
–Te pedirei em casamento para teu pai no Samhai.
O sorriso largo e brilhante deu lugar a um tímido, ele só poderia estar brincando, não poderia imaginar que ela o amava desde... Desde quando mesmo? Parecia ser por toda a sua vida, às vezes achava loucura da sua parte, mas sentia como se fosse predestinada a ele, mas ela nunca se iludiu com isso, ele nunca demonstrou nada, nem ela tampouco e agora... Seus sonhos poderiam se realizar? Quil veio sorrindo, tocando seu rosto.
–É um brincalhão, Quil Ateara.
Ele continuou, não era uma simples brincadeira, não agora, ele estava disposto a dizer tudo a ela, que a queria como namorada, como esposa e companheira para o resto de suas vidas. Ele a amava desde sempre, a amaria para sempre.
–Em Quileute nós dizemos Kwop Kilawtley.
Seus olhos viam nos dele algo mais do que amizade, fazendo seu coração disparar com essa descoberta de que a amizade estava virando amor e assim como ela, ele também a amava.
Ela sussurrou:
–O que significa?
Quil se aproximou ainda mais, sem perder o contato com os olhos dela, sem tirar sua mão do rosto dela, seu polegar acariciava as maçãs do rosto da amiga que ficaram rosadas demonstrando estar tímida e envergonhada, o fazendo adorá-la ainda mais.
–Significa... Fique comigo para sempre, Abigail.
O coração dela disparou alucinado à medida que o rosto dele chegava perto do seu, ele lutava contra os joelhos que queriam virar geleia, foi aproximando mais do rosto dela, parando milímetros seus lábios dos lábios dela, a olhando mais uma vez para ter certeza se o aceitaria e vendo que ela não demonstrava nenhuma reação contrária, ele tocou os lábios dela com os seus em um simples beijo, puro, inocente, mas que continha todo um sentimento, um amor que nascia.
Quando afastaram seus lábios eles se olharam e sorriram na certeza de que tudo era correto ali.
–Irá mesmo pedir ao meu pai que me torne sua esposa?
Ele sorriu.
–Eu juro... No próximo Samhai.
Os olhos dele brilhavam, ele foi beijá-la novamente, mas Abigail saiu correndo e gritando para ele que corria logo atrás dela:
–Então terá que esperar até lá.
Quil correu atrás dela e ambos pularam, se encontrando com Charlie.
–Vocês demoraram, foi difícil convencer ela ou você a jogou? - Charlie falou com um sorriso.
–A convenci... Disse que pediria a mão dela ao pai no Samhai.
–E eu pulei...
–Terá que cumprir sua promessa, Quil Ateara. - Charlie disse com um sorriso, feliz pelo amigo finalmente ter tomado coragem e se declarado.
–Eu sempre cumpro. - Quil disse olhando para ela.
Bisa fechou o álbum, os olhos cheios de lágrimas.
–Você nunca cumpriu sua promessa. - Bisa falou triste, nos olhos lágrimas que teimavam em aparecer e querer escorrer por seu velho rosto, o tempo passou, mas há coisas que ele não pode apagar, sentimentos que ficam guardados dentro de você e criam perguntas... Por quê? Ou... Como poderia ter sido?
Levantou-se e foi guardar o velho álbum, aquilo era um poço de tristes lembranças, coisas que ela queria e jurava esquecer, promessas não cumpridas, noites de lágrimas, decepção.
Voltou para sua cadeira de balanço acendendo seu cachimbo, estava distraída olhando o fogo e se dizendo que era uma boba, uma grande velha boba por se lembrar de coisas de crianças e ainda se sentir daquela maneira.
O Falcão piou e ecoou ao longe no mesmo instante em que o velho arco que estava fixo na parede caiu, Bisa o olhou, se levantou indo pegar o arco, o segurou firme em sua mão, sentindo algo diferente, algo estava acontecendo. Sentia uma forte energia.
Começou a orar. Um barulho novo soou, um toque de uma espécie de corneta feita de chifre, ao mesmo tempo em que um vento forte soprou fazendo sua janela se abrir, sentiu algo dentro de si, ela não estava sozinha ali.
Se virou para sua porta e o vento mais forte do que antes a abriu, Bisa caminhou até a porta, sabia do que se tratava, e lá estava...
Em meio à névoa ouviu um relinchar junto com o som dos cascos de um cavalo no chão, um pisar forte, mas não rápido, uma flauta soava melancólica, contracenando com o que acontecia, parecia um sonho místico, encantado... Parecia um mundo mágico.
Caminhando e saindo da densa névoa surgiu em sua frente um cavalo, era esplêndido, de um branco jamais visto, ele tinha sua cara pintada e alguns amuletos, estava preparado para a guerra.
Sobre ele montada uma linda jovem, uma índia, suas vestes eram como de uma amazona, uma guerreira, mantinha um arco em uma das mãos e com a outra segurava as rédeas do cavalo, pousado em seu ombro um falcão de olhos brilhantes, a índia tinha também o rosto pintado para a batalha, um longo traço feito em tinta vermelha fazendo uma espécie de máscara nos olhos.
A índia para diante da Anciã,que segura firme seu arco e mantem seus olhos nela,nessa guerreira, Seria uma antepassada? Seria um espirito antigo de seu povo?A aurea que emanava dela era magnifica,sentia uma energia muito forte.
_ Liberte-nos
A índia dizia no dialeto indígena.
O lindo cavalo branco relinchou ,Bisa viu mais silhuetas surgindo no meio na nevoa, uma outra índia surgia assim como mais uma e uma outra que tocava a flauta que soava uma cantiga melancólica que abria passagem para uma luz e vindo em sua frente uma mulher seus cabelos eram longos iam ate a cintura e eram vermelhos vivo e brilhante, suas vestes eram negras, ela caminhava lentamente, com corvos que a acompanhavam acompanhando.
As índias desceram de seus cavalos se ajoelhando abaixando suas cabeças em respeito e reverencia a essa mulher que caminhava entre elas.
Bisa sentiu seus olhos marejarem tamanha era a sua emoção, seus joelhos se dobraram a fazendo ir ao chão repetindo o mesmo gesto que as índias faziam, mesmo tendo sua idade avançada ela não titubeou, seu coração batia descompassado, a muitos anos ninguém havia sido digno de ver a presença desse espirito, ela ouviu desde criança historias que contavam que ele apenas aparecia para os que ela julgasse dignos. E agora ela Bisa recebia essa honra que seus antepassados tiveram.
O espirito de vestes negra tocou seu ombro, seu toque era quente fazendo Bisa se arrepiar não por medo, mas pela energia forte que ele passava, não passava temor e sim um enorme respeito, sua voz soou calma.
– Anciã é chegada há tua hora. Vá e prepare nossos guerreiros.
A anciã apenas sacudiu a cabeça em um movimento de aceitação não era preciso dizer , sabia do que o espirito dizia, foi educada toda a sua vida para esse momento, enfim ele chegou, não conseguia falar dada a emoção, ela que viveu a espera de um momento como esse, tudo que passava pela sua cabeça era que seus antepassados estariam orgulhosos dela, que tudo que ela aprendeu ate ali tudo que ela mais respeitava , estavam agora a premiando com esse momento.
As índias se levantaram quando o espirito passou por elas, subiram em seus cavalos olhando mais uma vez para a anciã de joelhos na soleira de sua porta em total respeito, os olhos de bisa se elevaram para ver as índias que a olhavam enquanto a figura da mulher de cabelos vermelhos ia sumindo na nevoa, as índias a cumprimentaram com um aceno simples de suas cabeças e se foram seguindo aquele espirito e sua luz ate que tudo se dissipou como em um sonho.
Bisa fez uma prece em agradecimento, pelo quanto foi honrada sua vida, abriu seus olhos... Ela tinha uma missão, sua última talvez, que não seria em Makah.
Foi até seu quarto preparando todas as suas coisas, algumas mudas de roupas, seu velho livro. Foi até o telefone, discou o número da sua neta, que atendeu rapidamente e pediu que chamasse o bisneto Alan.
Ambos vieram até a casa dela, encontrando Bisa sentada em sua cadeira, tranquila, com uma pequena mala ao seu lado.
–Vovó, o que é isso, aonde a senhora vai?
Bisa se levantou, ficando de frente para eles que a olhavam sem entender nada. Calma e serena, ela respondeu:
–Alan... Me leve para a reserva Quileute.
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Reserva Quileute
A matilha chegou à mansão e foram recebidos por Rosálie que era um poço de preocupação.
Jacob não queria dar satisfação alguma sobre Embry, depois desse ataque passou a odiar ainda mais a sanguessuga, pois a achava culpada, em sua mente tinha a certeza de que Rosálie estava por trás desse ataque, ela sabia que Embry iria até a casa dela, como não notou os sanguessugas perto da mansão? É claro que ela sabia.
Sam lhe disse o contrário, de que foi ela que o alertou, Rosálie lutou com alguns sanguessugas... Sam estava confiante de que Rosálie estava ao lado deles, mas Jacob... O lobo tinha plena convicção de que ela era culpada, mesmo com o indício de que ela estivesse tentando proteger Embry.
Mas ele não tomaria nenhuma atitude agora, precisava da desgraçada, mas na hora certa seu corpo virará cinzas, como os dos demais de sua espécie maldita.
–Se precisarem de medicamentos ou outra coisa, Carlisle tem um pequeno consultório na mansão...
Jacob a interrompeu imediatamente:
–Não precisamos de nada. - disse com sua expressão fechada, se controlando para não matar aquela desgraçada.
–Rosálie, onde exatamente começou o ataque?
Rosálie os conduzia até o local.
–Exatamente aqui, nós sentimos um cheiro desconhecido, identifiquei como sendo o de Eleazar, um dos Denali, velho amigo de Carlisle, eu e o Embry encontramos um corpo bem aqui, o Embry me pediu para ficar onde estava e ele veio caminhando para examinar o corpo, quando chegou nesse local uma armadilha de caça, aquele tipo usado para caçar ursos, se fechou e ele saiu arrastado.
Jacob se abaixou verificando o local, conseguia sentir o cheiro de vários sanguessugas e outro diferente, Quil o seguiu, se abaixando e tocando o solo.
–Trouxeram um corpo humano, prepararam a armadilha aqui, saíram arrastando ele...
Quil se levantou e começou a seguir as marcas no chão, seguido pelos demais irmãos, parou, se abaixou mais uma vez.
–Ele tentava se segurar em alguma coisa no solo, veja as marcas.
Continuaram seguindo até o local onde Sam o achou, Sam sentiu seu estômago embrulhar, não tinha percebido o local quando veio, havia muito sangue, pedaços da camisa que Embry usava estavam ensanguentados, olhou mais um pouco e viu um pedaço de papel que tinha algo escrito,ele o pegou vendo que se tratava de uma foto, no verso estava escrito .
“Charles Uley com seus netos Sam Uley, 4 anos e Embry Call Uley, 7 meses”.
Sam olhou a fotografia vendo um nó se formar, havia manchas de sangue que ele começou a limpar da fotografia, como se não quisesse macular aquela imagem, sentiu os olhos arderem com as lagrimas que se formaram e que ele tentava segurar, sua memoria não o traiu.
– Eu me lembro desse dia. Sussurrou.
Elevou sua cabeça suspirando profundamente controlando sua emoção, voltando a postura firme de Alfa,mas ele se prometeu de que quando Embry melhora-se eles iriam ter uma conversa, a conversa que nunca tiveram.
Quil continuou caminhando vendo a cena.
–Ele foi parado aqui, se arrastou, mas depois o puxaram mais um pouco.
Quil continuou caminhando, vendo o rastro de sangue.
–Aqui foi onde o pegaram. - Jared disse vendo uma parte mais a frente, onde havia muito sangue incluindo alguns pedaços de Embry.
_ Mas ele lutou, mesmo em desvantagem conseguiu lutar.
Quil dizia enquanto examinava o solo.
–Porque você não se transformou, Embry? - Jacob perguntou em voz alta, todos faziam a mesma pergunta em suas mentes.
–Alguma coisa o impediu de se transformar, e estou apostando que tem a ver com essa coisa que apareceu em nós. - Quil disse olhando para sua mão que continuava com a mesma alergia forte, fazendo os demais pensarem, Sam olhou em volta, sua mente juntando todos os fios soltos, Embry foi pego pela armadilha, a partir daí ele não se transformou, foi arrastado e não conseguiu reagir.
–Tentem achar a armadilha que o prendeu, ou outra coisa suspeita.
Os irmãos começaram uma verificação detalhada do local, mas foi Paul que encontrou a armadilha de caça.
–Aqui... Achei a armadilha. - gritou Paul em outro canto.
Os irmãos foram até ele e verificaram, parecia normal, tinha uma longa corrente. Sam imaginava o quanto o irmão sofreu. Jacob pegou a armadilha e começou a abrir.
–Cuidado Jake. - Sam advertiu.
Jacob estava abrindo-a para montá-la quando esta, com seus dentes afiados, cortou seu dedo, mas não como um corte comum, mais dolorido, parecia que o mesmo havia sido arrancada tamanha foi a dor.
–Merda! Meu dedo. Essa porcaria está afiada como navalha.
Não era comum isso, Sam, mais habilidoso, pegou a armadilha, a olhando melhor.
–Eles afiaram os dentes.
–Que negócio é esse? - Seth perguntou, se abaixando e ficando ao lado do Sam, apontando para algo que estava por todos os dentes.
Sam olhou melhor, era bem estranho, um tipo de pó colocado nas pontas dos dentes da armadilha, ele foi fixado.
–Sam, meu dedo ainda está sangrando muito, e não para de doer, já era para estar curando. - Jacob disse enquanto olhava o corte que continuava da mesma maneira, o sangue escorria, todos ali acharam estranho, pois o dedo já deveria estar cicatrizado.
–Os ferimentos do Embry não se fechavam... - Jared disse com um lamento.
Paul pediu a armadilha de Sam a olhando melhor, ele conhecia aquilo, já tinha visto, mas precisava de certeza.
–Eu vou analisar a armadilha.
Os lobos o olharam, Seth franziu o cenho desacreditando do que ouvia.
–Você o que? Acho que estou tendo ilusões auditivas.
–Química nota 10. Eu era do clube de química no colégio, tinha até um pequeno laboratório em casa.
Jacob o olhou dando um leve sorriso.
–Você... Nerd? O mundo realmente está se acabando.
Paul levantou os braços indignado.
–Vocês vão ficar me zoando agora?
E pela primeira vez naquela noite os irmãos riram.
–Olha, eu tenho um amigo, o nome dele é Call, posso levar a armadilha e pedir para ele verificar.
–Tem algum palpite, Paul? - Quil perguntou e percebeu pela expressão do Paul que não deveria ser nada bom.
–Sim, tenho, mas prefiro ter certeza primeiro, o que posso adiantar é que os sanguessugas devem ter descoberto algo que nós ainda não sabíamos, uma forma de nos afetar.
Os lobos se olharam e Jacob esperou que Paul, como sempre, estivesse enganado.
******
Os lobos voltaram calados, se limitando a poucas palavras, agora estavam envoltos a uma preocupação, pararam na casa do Paul onde ele deixou a armadilha guardada, esperaria até o dia amanhecer para procurar seu amigo.
Antes de voltarem para a casa do Sam e ver como Embry estava, Quil que estava até então calado, falou com o bando:
–Por enquanto não vamos comentar nada, vamos esperar Paul avaliar a armadilha.
Todos assentiram, não seria certo alarmar a todos sem antes ter certeza de alguma coisa.
Foram para a casa do Sam ver como estavam as coisas, Emily já havia preparado um lanche para todos e café, a noite estava bem longa, Embry continuava na mesma, o que de certa forma era um alívio, as garotas estavam sentadas esperando pela volta dos garotos.
Bella estava com as demais meninas, preocupada, seu pensamento a todo instante era em Jacob, na matilha, a conversa ríspida com Angela a fazia pensar, reviver sua experiência quando foi até a Itália e naquele dia conheceu os Volturi, sua força, lembrou de como Edward parecia um boneco nas mãos de Felix, os Volturi eram bem piores que os Cullens, e se Carlisle, assim como pediu ajuda aos Denali resolvesse ir até os Volturi falar sobre os lobos?
Isso a fez temer mais ainda, um frio percorreu sua espinha trazendo um medo terrível, não há chance para a matilha, só restava a Bella uma certeza: de que Jacob e a matilha deveriam partir, ir para bem longe dos Cullens. O problema seria convencer Jacob.
Rachel olhou para Bella sentada em um canto, observou como Bella acariciava as próprias mãos de maneira nervosa, mantinha a cabeça baixa, parecia temerosa. Rachel poderia entender o que ela deveria estar sentindo, aquilo tudo a levava de volta a morte de Dean.
Rachel foi até o pequeno barzinho que Sam tinha em um canto da sala, pegando dois copos com um pouco de conhaque, indo até onde a cunhada estava, assim que se aproximou, Bella ergueu seus olhos. Ela sorriu lhe entregando um copo.
–Relaxe...
–Obrigada Rachel.
Bella pegou o copo bebendo um pouco, fazendo uma careta pelo gosto amargo forte, o líquido descendo queimando por sua garganta a fez soltar a respiração, suspirou.
–Depois de hoje todos nós precisamos de um belo gole. - o senhor Cameron se aproximou delas, trazendo consigo um copo e a garrafa que servia a todas ali.
–Eles estão demorando, senhor Cameron. - Bella disse preocupada, os meninos haviam saído para verificar o local onde houve o ataque e já tinha sido há horas. Cameron era experiente, viu que Bella precisava desabafar, estava nervosa, ele deu um sorriso para ela.
–Tem certeza de que é apenas a demora dos meninos que te aflige? – perguntou olhando para Bella, investigando seu olhar, Bella tentaria dizer que sim, mas acabou negando com a cabeça.
Cameron olhou para Rachel e depois para as demais meninas.
–Vem, vamos ver a lua.
Como um cavalheiro, Cameron se levantou esticando a mão na direção de Bella, ela olhou para sua mão estendidas a ela e sem titubear a segurou, os dois caminharam para fora indo até o quintal, sentando no tronco caído em frente a casa.
–A lua está alta e bonita. – disse Cameron.
–Estou com medo... Medo de que os lobos não consigam... Eu não quero mais perder quem amo.
Bella deu mais um gole no conhaque, a bebida ajudou as lágrimas a caírem, e ela continuou:
–Houve um tempo em que eu sonhei com tantas coisas, sonhei com uma vida feliz ao lado do Jacob, sonhei com filhos correndo pelo quintal, com uma vida de paz, achei que finalmente seria feliz...
Bella bebe mais um gole enquanto Cameron a olha em silêncio.
–Mas os tigres vêm a noite, com suas vozes suaves como trovão, enquanto eles despedaçam sua esperança, enquanto eles tornam seus sonhos em vergonha. O que eu fiz, senhor Cameron? Deus, eu daria tudo para voltar atrás, para ter refeito minhas escolhas desde o começo, para ter evitado tudo isso, eu deveria ter confiado no Jacob, nos meninos. Agora meu filho está morto, Jacob não me ama mais... E o Embry...
Bella não contêm mais as lágrimas que caem.
–Eu tenho medo, senhor Cameron... Medo de perdê-los.
Cameron a abraça, pobre moça, tão cheia de demônios que ela mesma criou, uma menina ainda, com tanto sofrimento, tanta culpa.
–Oh filha, não fique assim, tudo dará certo, e no fim você e Jacob estarão bem novamente, nossos garotos são fortes, são guerreiros, é o destino deles.
–Eu quero que eles vão embora, senhor Cameron, que eles vão para um lugar onde possamos ficar em segurança.
Cameron a olha.
–E você acha justo isso? Falar para Jacob abandonar essa guerra, você acha que ele ficaria em paz, o seu espírito, Bella, ficaria em paz? Sabendo que os assassinos do Dean estão vivos, que eles conseguiram o que tanto queriam, Bella, o Embry nunca mais vai ser o mesmo e Deus sabe se ele ainda vai pertencer a matilha, ele está desfigurado e vai ficar assim para o resto da vida... E você fala em fugir... Me diz Bella, você ficaria em paz em olhar todos os dias para as cicatrizes do Embry, você ficaria em paz com você mesma?
Bella olhou para Cameron, suas palavras entrando em seu coração, expulsando o medo que estava se criando dentro de si mesma, ela pensou em todos, olhou para a casa a sua frente, vendo seu Dean, lembrando dele engatinhando pela varanda, feliz, cheio de vida, ela viu Jacob deitado enquanto o filho subia em cima dele e ele o pegava e o erguia bem alto fazendo de conta que o filho estava voando para depois pousar Dean em seu peito e o beijar. Ficou um tempo calada, não, ela não aceitaria, não se sentiria em paz.
–Eu os quero mortos!
Ela sentenciou fazendo Cameron assentir com a cabeça.
–E você os verá, confia nos teus lobos, eles podem ser fortes, mas nós somos espertos, rápidos, ágeis e quando isso terminar nós faremos uma fogueira com seus corpos e dançaremos em volta dela como os guerreiros antigos, como Tahaki fez na vitória contra os frios.
Bella riu.
–E cantaremos Testament...
É quando escutam uma voz:
–Vivo em um mundo incontável, questiono o desconhecido
Esta prisão me captura minha cela é tudo que conheço
Eu pensei que eu sabia que isso tudo era teimosia das minhas escolhas
Minha sentença começou desperdicei meu futuro...
Jacob vem caminhando para eles, juntamente com os outros, e enquanto caminha ele canta olhando para Bella.
–O próximo capítulo da minha vida é cheio de cenas violentas
Eu fico acordado a noite me escondendo dos meus sonhos
As vozes me caçando me deixam louco
Não posso fugir, estão me chamando
Eu sinto que estou escorregando, todos querem me pegar
Minha vida está de cabeça para baixo, mais do que os olhos acham...
Bella solta um suspiro de alívio enquanto Jacob continua caminhando e cantando, a olhando.
–Mas agora eu estou no controle escolhendo meu próprio destino
E agora eu durmo a noite porque não estou amedrontado
Meus demônios me caçando eu peguei a todos eles
Eu venci todos os meus medos meu destino espera
Não estou mais escorregando, eu não escorrego
Ninguém quer me pegar, ninguém está no meu caminho...
–É uma excelente banda... - diz Sam sorrindo, Jacob chega perto de Bella.
–Você precisa escutar mais a letra deles.
Ele dá um apertão cordial no nariz dela que sorri, o que a fez estranhar.
–Como está o meu irmão, senhor Cameron? - Sam perguntou.
–Está na mesma, não melhorou e nem piorou.
Os lobos assentiram e se dirigiram para a casa de Emily e Sam.
–Vamos pai. - Jared chamou pelo pai que preferiu ficar mais um pouco ali, estava com a garrafa de conhaque, colocando mais em seu copo enquanto olhava a noite a sua frente, o negro da floresta.
–Ainda tem um gole para mim ou você já bebeu tudo?
Cameron se virou sentindo mãos em suas costas e sorriu ao ver o amigo.
–Ainda tem, a garrafa está até rendendo.
Cameron entregou a garrafa ao velho que não se fez de rogado, virando na própria boca o líquido.
–Esse aqui é bom.
–É, precisamos vir mais vezes beber o conhaque do Sam. - Cameron diz debochado fazendo o Velho Ateara rir.
A risada cessa deixando os dois homens calados, Cameron tinha seus pensamentos em Bella, na sua dor, mas também pensou em Jared, seu filho ainda era um menino, e já com tanta responsabilidade, assim como os demais.
Há algumas horas atrás quando chegou ao quarto vendo o estado do Embry, sua cabeça e seu coração foram povoados com pensamentos nada agradáveis, em seu interior culpou Jacob, culpou Bella.
Há algumas horas atrás quando chegou ao quarto vendo o estado do Embry, sua cabeça e seu coração foram povoados com pensamentos nada agradáveis, em seu interior culpou Jacob, culpou Bella.
–Ateara, eu sou um homem que respeito às tradições da nossa tribo, você sabe disso, tenho respeito pelos meus descendentes, pelo que sou, é bem verdade que não prossegui no meu caminho, havia outras coisas que me impediam aquela mulher...
Cameron se cala ao lembrar da sua ex esposa, um nó se faz em sua garganta, era sempre doloroso falar dela, do fim, e ele que jurou somente amá-la. Saiu do seu caminho por medo, por medo de acontecer com ele o mesmo que aconteceu com Leah e Sam.
Cameron suspirou, segurou o choro, deu mais um gole no conhaque, limpando a garganta e continuou:
–Mas Ateara, pela primeira vez eu amaldiçoei o que somos, o que nossos meninos se transformaram, o Embry... - Cameron para tentando a todo custo segurar uma lágrima. –Deus! Eu o vi correndo por essa reserva ainda de fraldas, vi cada um deles nascer, Ateara, eu peguei o Jacob no meu colo quando ele tinha apenas dias de vida. E pela primeira vez eu me odiei... Odiei meus antepassados e odiei Bella e Jacob.
Cameron dá mais um gole na bebida, se culpando pelo sentimento que havia sentido mais cedo.
Ateara bebeu um gole, olhando para o amigo.
–É compreensivo, não se culpe por isso meu amigo, em momentos ruins nosso coração se enfraquece, a razão se perde por alguns instantes e então damos lugar ao ódio, faz parte da raça humana isso, faz parte do amor que sentimos esse ódio, amamos tanto, estamos sempre prontos a proteger nossos meninos que chegamos mesmo a lutar contra qualquer um. O importante é que você não deixe criar raízes.
Cameron assentiu e deu seu copo a Ateara que colocou mais um pouco de conhaque e os dois brindaram.
Um farol alto entrou pela estradinha indo em direção à frente da casa. Cameron e Ateara estranharam se levantando e vendo a Ranger que parava na frente deles, saindo dela um homem alto, cabelos compridos e forte, sua cara meio sisuda, foi até a porta do passageiro a abrindo e ajudando a pessoa a sair com todo o cuidado, a expressão sisuda deu lugar a uma mais branda.
–Aqui Bisa, devagar, cuidado.
Bisa finalmente havia chegado à reserva Quileute, chegou com o amanhecer de um novo dia, seus olhos percorreram rapidamente o ambiente, pouca coisa mudou desde a última vez que esteve lá, suspirou saudosa.
Bisa olhou à frente vendo dois homens parados olhando curiosos, pegou sua bengala enquanto o bisneto grandalhão a acompanhava logo atrás, seus olhos viram os dele, estava mais velho... Que bobagem, ela esperava que ele tivesse parado no tempo?
Mas ela o reconheceu imediatamente, assim como ele a reconheceu, Ateara tomou um susto ao ver aquela velha senhora vindo em sua direção, já fazia anos que não se viam, a última vez ele era tão jovem, mas foi impossível não a reconhecer, o velho coração bateu mais forte, parecendo que algo adormecido havia acordado, uma emoção, um sentimento que ele há muito tempo não vivia, a alegria que sentia sempre que a via.
–Abigail... O que você faz aqui? - Ateara perguntou fazendo Cameron olhar para ele e para senhora na sua frente, que parava o observando seriamente, ela sentiu, assim como ele, a mesma emoção, a enorme alegria de vê-lo, mas tantas coisas haviam acontecido, agora à medida que caminhava na direção da casa da sua Emily e ele a encarava, Bisa pensava em tantas coisas, relembrava promessas feitas, juras, tudo que não foi cumprido, mas que o tempo nunca à fez esquecer, e se questionava internamente... Oh, meu ancião, me dê forças para encarar o meu passado.
Bisa parou na frente de Ateara, diante de sua pergunta, ela respondeu sem delongas:
–Escrever a minha parte desta história, Ateara.
E passou por ele sendo seguida pelo bisneto grandalhão, que olhou para Ateara o cumprimentando.
Ateara ficou parado, ainda surpreso com ela ali, Cameron o olhou sem entender nada.
–O senhor a conhece?
Ateara voltou à realidade fechando sua expressão e caminhando para dentro da casa seguido por Cameron e respondendo a pergunta do amigo.
–Sim! É a mulher mais teimosa que já vi em toda a minha vida!
–Xiii... - Cameron disse, dada a resposta do amigo, já percebia o que logo viria.
Bisa foi entrando fazendo todos se assustarem, Emily ficou tão surpresa quanto Ateara.
–Bisa, o que faz aqui?
Bisa era de temperamento forte.
–Ah, que todos agora me perguntam a mesma coisa, o que faço aqui... Coloque minha mala em qualquer canto Alan, cumprimente sua irmã... Onde está o dono desta casa?
Sam, que estava parado abismado, caminhou até a índia como um menino.
–Bisa... Não sabe o quanto minha casa é honrada em ter sua presença.
Bisa olhou para Sam e sorriu, acariciou os cabelos dele, ela o adorava, sabia sobre ele ser um lobo, se sentia feliz e honrada de que um guerreiro Quileute fizesse parte de sua família. Nada lhe era mais honroso do que isso.
Sam olhou para Alan, o índio grandalhão irmão de Emily, mais velho do que ela, tinha cara de poucos amigos.
–Meu cunhado, que felicidade você na minha casa.
–Ainda continua noivo da minha irmã e vivendo em pecado com ela?!
–Você agora é padre? - Sam perguntou fazendo o grandalhão rosnar, Emily entrou em sua frente já contendo os ânimos.
–Parece que não é apenas Jacob e Paul que brigam. - Jared comentou fazendo Kim soltar uma risadinha abafada.
–É de família, faz parte do nosso sangue lupino isso. - Jacob disse entrando na brincadeira, Sam olhou para a senhora.
–Bisa, venha, quero que conheça os meninos e suas garotas.
Os lobos se colocaram lado a lado, junto com suas garotas e um a um foram apresentados, Bisa parou de frente para Jacob e o olhou firme.
–O mal tem um pouco do bem e o bem tem um pouco do mal, ambos precisam um do outro.
Bisa se voltou para os demais, vendo Seth na sua frente.
–Meu pequeno urso. - o chamou. Seth foi até ela a abraçando, Bisa o chamava assim, de pequeno urso, pelo menino quando esteve ainda bebê em sua casa ter conseguido achar um pote de mel que ficava na parte de baixo do armário da cozinha, e ao ser encontrado pelos pais e por bisa ele estava todo lambuzado com a mão dentro do pote onde retirava e levava o pequeno dedinho a boca, saboreando.
–Já sou um homem, Bisa. - Seth falou sorrindo para a índia.
–Onde está Leah? - Bisa perguntou curiosa, pois ainda não tinha visto a bisneta ali com os demais.
–Ah bisa, uma tragédia em minha casa... Meu irmão, ele está muito ferido, foi atacado por... - Sam parou por um minuto olhando para o irmão de Emily que a essa altura já estava na cozinha com a irmã tomando um café. -Ele não está nada bem.
A índia o olhou firme, começaria ali a sua missão, ela já entendia o que havia acontecido e pediu que a levassem até o quarto onde Embry estava.
Bisa chegou ao quarto com Sam e olhou com pesar sua bisneta Leah, que estava sentada ao lado de Embry e segurava sua mão, Leah olhou para a índia que vinha em sua direção.
–Bisa... – ela disse enquanto chorava, Bisa abraçou a menina.
–Seu amor é importante para ele, é o que irá segurar ele aqui conosco. Não se preocupe filha, vá para casa e descanse, agora é comigo.
Leah olhou para bisa e para Embry, depois para Sam.
–Mas bisa... Me deixe ficar aqui com ele.
–Minha filha, você aqui cansada não irá ajudar, seus irmãos agora precisam de você, e todos vocês precisam estar fortes. Sam... - Bisa chamou Sam que veio prontamente. -Diga a todos que vão para suas casas descansar, ele não irá morrer, podem ficar tranquilos, vocês precisam estar fortes.
–Mas bisa... A senhora não acha melhor...
–Ahhh, Sam Uley, não me desobedeça ou eu usarei essa bengala em você.
Uma coisa sobre a Bisa: ela não gosta de falar duas vezes a mesma coisa.
Hesitante Leah e Sam foram saindo a deixando sozinha, bisa puxou uma velha poltrona, de seu bolso retirou seu cachimbo, pegou um saquinho com ervas, colocando no cachimbo, enquanto preparava ela cantava baixinho uma velha canção Makah, acendeu e soprou a fumaça no rosto de Embry.
A velha índia tocou sua testa, fechando os olhos e orando. Sorriu sentindo uma boa energia que estava no quarto, ela reconheceu...
–Nunca duvidei do amor que você sentia por ele. Que bom que está conosco, Charles.
****
POV Paul
Por volta das 10 da manhã fui até a casa do meu amigo Call, ele morava em Forks, nos conhecemos desde o primário, através do clube de ciências.
Descobrimos o gosto por química em comum, Call tinha um bom futuro, foi aprovado na faculdade e faria engenharia química.
Quanto a mim, meus planos mudaram quando minha vida mudou, se ainda somente com a minha transformação a faculdade parecia um sonho distante, mas ainda assim possível, isso mudou depois de Rachel.
Bati em sua porta e um Call com os cabelos bagunçados apareceu, tinha a aparência de um cientista louco mirim, ao me ver ele abriu um sorriso
–Paul, cara, que surpresa.
–E aí Call...
Trocamos um empolgado aperto de mão, Call era assim, sempre empolgado com tudo.
Ele me convidou para entrar, nos sentamos no sofá enquanto ele foi até sua cozinha trazendo duas cervejas.
–Cerveja às 10 da manhã, Call... – fingi repreendê-lo.
Ele me olhou por cima dos óculos.
–Vindo de você que escovava os dentes com ela me surpreende.
Eu ri, me lembrando disso.
–Algumas coisas mudam. – dei de ombros.
Ele sorriu.
–É, estou vendo, o que eu não entendo é que você tinha um futuro como químico, desistiu de tudo?
Dou um gole na cerveja.
–Digamos que adiei meus planos, e como está sua mãe e a sua irmã?
Ele riu.
–Mamãe ainda continua a mesma maluquinha de sempre, já a minha irmã cresceu bastante. Vovó conseguiu vencer o câncer.
–Ei, isso é ótimo, eu sabia, te falei que ela era uma grande guerreira.
–Sim, estamos todos aliviados com isso. Obrigado pela força que você e seu pai nos deram. Valeu mesmo! - ele apertou a minha mão. -Mas essa sua visita repentina não deve ser apenas para saber como estou, né?
Call me conhecia bem.
–Eu preciso usar seu laboratório, o seu laboratório sempre foi mais completo que o meu.
Ele deu mais um gole na bebida, me olhando.
–Claro, vem, vamos até lá, comprei algumas coisas.
Acompanhei Call até o porão onde ele mantinha o laboratório, verificando o lugar pude ver que teria tudo que precisaria, Call se sentou em uma cadeira me dando antes um jaleco, luvas, óculos de segurança, e começou a me ajudar.
Ele achou estranho quando retirei a armadilha da minha mochila, mas eu disse a ele que precisava verificar algo nela, pois achei algo estranho, inventei uma história qualquer sobre um amigo se acidentar com ela e seus ferimentos estarem com problema de cicatrização.
Para minha sorte ele não pediu muito detalhes e me ajudou, mas não foi tão difícil identificar do que se tratava aquilo, em pouco tempo tudo ficou bem claro pra mim.
No final agradeci ao Call pela ajuda, prometendo que voltaria para mais visitas, mas eu estava com pressa e retornei para minha casa, ainda faltava realizar um último teste. Liguei para o Jacob dizendo a ele que eu já sabia o resultado, mas que precisaria fazer mais uma coisa e propus a ele uma reunião com toda a matilha, mas longe das meninas, então marcamos na cabana que era do pai do Quil.
Quando cheguei à cabana estavam todos presentes, menos Brad, Collin e Leah que estavam em ronda.
–Analisei a armadilha e era o que eu suspeitava, mas por último preciso fazer um teste. – fui logo informando, não tínhamos tempo a perder.
Todos me olhavam com atenção.
Retirei da minha mochila um vidrinho que continha o produto químico em uma forma líquida.
Abri, pegando um conta-gotas e apenas pinguei uma gota em minha mão.
A reação foi imediata, senti uma queimação forte, o local ficou irritado imediatamente, se criando uma pequena bolha.
Meus irmãos olhavam, agora espantados.
Enquanto eu lavava minha mão, sentia uma queimação muito forte na minha pele, mesmo a tendo lavado.
–Mas que diabos é isso Paul? - Sam me perguntou preocupado.
–Irmãos... Isso é uma substância química, nós somos vulneráveis a ela... É o nitrato de prata.
Um silêncio se abateu sobre nós, cada um absolvido em pensamentos e preocupações.
Sam se sentou em uma cadeira, abaixando a cabeça, cada um de nós sabia o que aquilo significava, os vampiros tinham uma arma contra nós, algo que não esperávamos, e até posso arriscar que o ataque ao Embry foi a forma de eles nos mostrar que estávamos fudidos.
O Quil explodiu numa risada nervosa.
–Nitrato de prata, mas que conveniente! Claro que lobisomem não são imunes a prata. Não poderia ser menos óbvio, não é? - ele foi sarcástico e Jacob o olhou.
–Quil, para com isso. - Jacob o advertiu, mas Quil o encarou.
–O que foi senhor Alfa, não posso expressar o que sinto, não posso ser sarcástico?
Jacob deu um passo na direção dele.
–Está se descontrolando, caindo na deles.
Quil riu, balançando a cabeça, respirando fundo, Jacob foi até ele, o cara era uma pedra de gelo, não demonstrava nenhum medo ou preocupação.
–Não caia na deles, é isso que querem, nos deixar com medo, preocupados, nos desestruturar, mas nós não podemos cair nessa, nesse jogo sujo.
Quil, enquanto o Jacob falava, mantinha a cabeça baixa, concordando com o que ele dizia.
–Você está certo Jake, se eles quisessem mesmo já teriam nos matado, eles querem brincar conosco, querem acabar com nossas mentes, não vai ter graça se eles não nos torturarem primeiro.
Jacob sorriu.
–Exatamente, por isso temos que nos manter firmes.
Jacob estava certo, o melhor a fazer é de agora em diante ficarmos mais espertos.
–Tudo bem, mas como faremos com as rondas? Seria melhor fazermos todos juntos. - Jared falou.
Sam se levantou e nós sabíamos que ele tinha algo a dizer.
–Jacob, Quil... Vocês sabem das condições do Em... Do meu irmão... Apesar de ter a Bisa cuidando dele e também a Leah, eu preciso estar ao lado dele.
O olhar do Sam nos comoveu, todos nós sabíamos que ele não iria se afastar do Embry, pelo motivo de que agora daria a ele todo o cuidado que o pai negou, queria fortalecer os laços que os une.
Quil o olhou, assentindo sem objeção.
–É claro Sam, Embry precisa de você, até mesmo acredito que eles não vão tentar nada agora. - Quil disse com um sorriso fraco, tocando o ombro dele em sinal de apoio.
–Uma outra coisa... As meninas não devem saber sobre isso, avisaremos a Leah, mas as demais não devem saber sobre o nitrato. – Jacob disse.
Todos nós concordamos, conhecendo bem nossas garotas elas iriam se preocupar ainda mais, mas também sabíamos o verdadeiro significado daquelas palavras do Jacob... Ele não queria dizer “as meninas” e sim “a menina”... A Bella. Mas o entendíamos, eu também não queria a Rachel ainda mais preocupada.
Nós ficamos em silêncio novamente e nos olhamos, a guerra tinha começado e infelizmente estávamos em desvantagem... Mas nos olhos de cada um dos meus irmãos eu via refletido o mesmo sentimento meu: Nunca nos renderíamos.
Esse era só o começo e nos prepararíamos para o que viesse pela frente. Somos uma matilha, somos um só, e é assim que venceríamos os sanguessugas desgraçados... Juntos!
###
POV Jacob
Eu estava com medo.
Um calafrio percorreu a minha espinha quando Paul nos disse sobre a nossa fraqueza diante do nitrato de prata, não estava com medo por mim, depois que Dean se foi pouco me importava viver, mas pensei nos meus irmãos, em suas companheiras, em Bella.
Com a nossa derrota as meninas ficariam desprotegidas, a mercê daqueles malditos, Bella estaria entregue novamente as garras daquele maldito. Eu temo por todas, temo por meus irmãos.
Vi esse medo estampado em cada um de nós que estávamos ali naquela cabana, vi a fragilidade nos olhos do Quil, sim, isso era muito injusto, por que nós? Por que sempre éramos vulneráveis? Porque sempre perdíamos de alguma forma?
Não sei determinar quanto tempo esse calafrio, esse medo me percorreu, mas em minha mente algo me dizia:“Deixe-me...”
“Sim”... Era a resposta que eu dei e logo o calafrio começou a sessar, o ódio que eu sentia que havia diminuído um pouco voltou mais forte, percebi que minha expressão ficou dura, minha respiração era tranquila, sem medo, sem temor, ele estava presente, ele voltava a me dominar.
Parecia ter dado uma trégua, parecia ter se afastado um pouco esses tempos, apesar de sentir que estava comigo em determinados momentos.
Mas agora sua presença passa a ser mais forte, tanto que pareço não ter controle mais de minhas palavras, era isso que precisávamos, ele voltou, não que tivesse ido, mas agora ele voltava a comandar, como era no começo, a matilha precisava de sua força, de sua liderança, sua voz parecia ter acalmado o lobo do Quil e passado confiança aos demais.
Acabamos a reunião e nossa matilha estava aparentemente forte e confiante.
Na volta fui pelo cemitério, queria ver o túmulo do Dean, fazer uma oração, e dei um sorriso triste ao ver as flores que pareciam ter sido colhidas e depositadas naquele instante, toquei carinhosamente a lápide, não conseguindo conter uma lágrima.
–Percebeu como enfraquece quando não estou no comando, Jacob?
Olhei e o vi debaixo da árvore, escondido pelas sombras, meu outro eu, meu lobo.
–Estava até tranquilo esse tempo. – eu disse sem olhá-lo. Ouvi sua risada sarcástica acompanhada de um rosnado fraco.
–Seu amor me afastou de ti por algum tempo, não totalmente, mas o suficiente para que cuidasse de Isabella.
Isso era novidade.
–Eu odeio isso, a forma como ele te faz esquecer tudo e que só pense em Isabella.
–Acho que você não quer gostar dela, tem medo de também sucumbir ao que eu sinto por Bella e acabar também a amando. Afinal, eu impus minha vontade uma vez.
Ele rosnou parecendo raivoso e veio em minha direção e quando levantei meu olhar ele estava bem em minha frente, rosnando, parecendo irritado com o que eu disse.
–Você tem um amor dentro de si tão grande e forte que eu chego a me surpreender, mas eu tenho uma ira em mim que te deixaria assustado.
O olhei duramente.
–Você não é louco de machucá-la.
Ele riu.
–Acha mesmo que a machucaria?
Me encarou e os olhos negros brilharam.
–Não Jacob, não a machucaria, mas admito que a transformação dela me surpreendeu ,ela está mais fêmea, mais selvagem, e o cheiro do corpo dela rude, forte como o de uma fêmea que anseia ser possuída...
–Você a quer... - sussurrei o interrompendo.
–Você não me permitiria isso.
O olhei confuso, porque eu não o permitiria querê-la?
–Eu a faria sofrer e, claro, posso ferrar com sua vida, mas mexer com a sua queridinha seria um problema e eu não estou a fim de que você se revolte e me expulse da sua vida como fez com o outro. Até porque estamos em uma guerra.
Ele sorriu, cínico, enquanto eu suspirei.
–Certo. – concordei. –Mas o que você quer agora?
Ele deu de ombros, olhando para a lápide.
–Acreditaria se eu dissesse que estava com saudades?
Ri zombando do seu cinismo. Ele ficou sério.
–A coisa está séria Jacob, e vai ficar pior ainda, a presença da anciã de Makah aqui é para nos preparar para o que está por vir, eu preciso estar presente agora definitivamente, não tente lutar contra mim, não ponha seu maldito amor no meu caminho. Não tente me afastar por Isabella.
–O que vai acontecer? O que você sabe?
Ele estranhamente olhou para a floresta e depois para mim.
–Não sei.
Eu bufei sem acreditar que ele não sabia, é claro que ele sabia de alguma coisa.
–Já falamos demais, pronto para me deixar voltar? - perguntou e eu nem tive chance de responder ou perguntar alguma coisa , logo me vi ficar em quatro patas e senti que dentro de mim tudo mudava, ele voltava agora definitivamente.
*****
POV Bella
Havia sido mais um dia cansativo, estávamos todas sem dormir direito, nos revezando, ajudando nos cuidados com o Embry, tínhamos que trocar suas ataduras, cuidar de seus ferimentos, e vê-lo ali deitado inconsciente, e a angustia da Leah e da mãe dele, era horrível.
Eu queria ajudar, mas nem fazia ideia de como, Bisa nos dizia que deveríamos orar, e isso já estava começando a me irritar... Pois parecia que em nada nossas orações ajudavam.
Eu ficava com raiva toda vez que via o estado em que o Embry se encontra, lembrar que os Cullens fizeram aquilo me deixava cada dia mais ansiosa para que o dia da morte deles chegasse.
Tenho uma fera dentro de mim, uma pantera enjaulada que anda de um lado a outro, louca para atacar, louca para se libertar. Um fogo que eu não fazia ideia subia pela minha espinha, deixando minha respiração forte, de uma fera selvagem, fazendo meus dentes trincar de raiva. Essa fera, essa ira, surgiu quando os Cullens mataram meu filho, me tiraram um pedaço, algo dentro de mim se tornou obscuro, no começo eu não entendia, mas depois dos dias que passei em Makah comecei a desejar a raiva para vingar meu filho, por isso essa fera, essa raiva. Agora vejo que o que o Jacob sempre me dizia era correto: nunca confie em um sanguessuga. Precisei perder um pedaço de mim, minha alma, meu coração, para descobrir que Jacob sempre teve razão.
Precisava me acalmar, cheguei em casa e tudo estava em silêncio, Jacob não estava, um choramingo de frustração saiu de mim, eu queria que ele estivesse aqui, estávamos bem, depois do ataque do Edward ele parece ter ficado mais receptivo a mim, tocava minha mão, me dava sorrisos, cuidava de mim, parecendo o Jacob de antes, claro que não era, pois continuava ainda duro e frio, mas era um bom começo, talvez o tal lobo mal esteja me aceitando...
Liguei o som do quarto, olhando na prateleira de CDs o que eu deveria colocar para relaxar, fiquei vendo os CDs de rock do Jacob até que...
–Aha! Loreena Mckennitt!
Enchi a banheira com alguns sais de banho, abri uma garrafa de vinho colocando o líquido em uma taça, retirei minhas roupas e fui para o banheiro, saía da banheira uma fumaça de aroma agradável, e emergi na água quentinha, dei um gole no vinho, encostei minha cabeça na beirada da banheira, fechei os olhos relaxando enquanto a música preenchia o ambiente e eu desligava minha mente.
Um tempo se passou, não sei bem afirmar quanto, mas meus olhos se abriram quando escutei uma voz.
–Vai beber a garrafa inteira, Isabella?
Era ele, sentado na borda da banheira me olhando fixamente enquanto sua mão pegava a garrafa que estava ao chão do lado da banheira, estava apenas com uma toalha, seus olhos eram negros, me surpreendendo por não ter percebido sua presença ali.
–Há quanto tempo está aqui?
Ele desviou o olhar do meu, sorrindo cinicamente, eu conhecia aquele sorriso, já não o via a um tempinho.
–O que importa?
Sua resposta foi seca, eu o olhei, analisando, uma mulher conhece o seu homem, sabe quando algo está diferente. Bufei...
–Estava bom demais para ser verdade.
Ele riu acompanhado de um rosnado sutil, eu já estava irritada e saber que voltaria aquele comportamento dele irritante me enervou mais ainda.
–Você estava fragilizada Isabella, precisava de um pouco de carinho, de amor, eu não saberia lhe dar isso, então deixei o velho Jacob ficar no papel que ele representa tão bem... Seu protetor. Mas já estou de volta.
–Devo agradecer ou chorar pela sua volta ? - falei cínica, assim como ele, dois podem jogar esse jogo.
Dei um gole no vinho sem tirar os olhos dele, estava uma tensão quase que palpável no banheiro. Ele se limitou a um sorriso debochado e irritante. E ofereceu em silêncio para colocar mais vinho em minha taça.
A água cobria parte dos meus seios, mas deixava o busto à mostra , ele sentava na borda da banheira na ponta onde o poderia alcançar com meus pés, sorri maliciosa levantando meu pé da água quente e acariciando suas costas, falei em uma voz macia e convidativa:
–Quer entrar na banheira comigo lobo?
Ele me olhou fixamente, seus olhos me penetrando, um calor começou a se formar entre minhas pernas, era excitante a forma que me olhava, devorador, voraz, predatório de mim e da minha alma...
Ele ficou sério, deu uma golada no vinho e se aproximou de mim, seus olhos pareciam correr pelo pouco que estava descoberto do meu corpo. Ele pegou a garrafa encostando a boca dela em meu pescoço, eu pude sentir ele escorrendo lentamente até a junção entre meu pescoço e ombro, meu olhar estava preso nele e o dele estava acompanhando o caminho que ele traçava.
–Sua marca parece estar sumindo. - ele disse com uma voz rouca.
Eu engoli em seco e permaneci calada, ele levou novamente a garrafa em sua boca e depois voltou com ela agora oferecendo a mim, encostando em minha boca delicadamente, coloquei meus lábios e consegui sentir seu gosto misturado ao vinho.
Fechei meus olhos e um suspiro escapou em delícia, era muito bom, diferente do sabor do Jacob, algo que não tinha provado antes, talvez pela mistura do vinho. Ele virou um pouco a garrafa despejando suavemente em minha boca o vinho e a retirou. Eu estava excitada, meus seios agora demonstravam isso, entre minhas pernas a ânsia de que ele me tocasse.
Ele retirou devagar a garrafa da minha boca descendo dos meus lábios lentamente pelo meu queixo, passando pela minha garganta até alcançar meu busto.
Enquanto eu involuntariamente arqueava meu corpo um pouco fora da banheira dando a ele a visão dos meus seios, e seus olhos foram para eles.
Jacob estava sério, mas apesar de sua expressão, era possível ouvir um rosnado suave, o lobo estava ali nitidamente, ele levou a garrafa até sua boca, seus lábios tocaram o mesmo lugar que o meu, mas ele os entreabriu o suficiente para que eu visse a ponta da sua língua passar pelo local suavemente, para em seguida ele a trazer de volta para o meu corpo, agora passando pelos meus seios.
–São lindos, parecem ser saborosos. - ele aspirou o ar. -E você me convida quando emana esse cheiro... Está excitada Isabella... Eu sinto isso, sinto sua respiração descontrolar quando falo dessa forma com você, sinto sua pulsação se acelerar. Deve estar tão molhada e ansiosa.
Fechei meus olhos à medida que ia escutando-o me dizer essas coisas, sua voz rouca era tudo que eu ouvia, ela ganhava um tom especial por conta do acústico do banheiro, estava certo, eu estava louca por ele, e ao invés de palavras apenas gemi demonstrando que ele tinha razão em cada coisa que me dizia.
Ele retirou a garrafa de mim, e pude sentir sua boca perto do meu ouvido fechei meus olhos ao sentir o hálito quente e depois a ponta da sua língua que tocou, para depois ele dar uma mordidinha, retirando de mim um gemido de prazer, com uma maneira tão simples ele estava me matando, fazendo meu corpo queimar e estremecer ele parou de me morder sua boca ainda perto do meu ouvido dizendo em uma voz rouca:
–Não tente jogar comigo Isabella, eu não sou o Jacob.
Ele se levantou e eu o olhei, deu um último gole e saiu do banheiro.
Rosnei de raiva, maldito desgraçado filho da mãe.
–Seu desgraçado, eu te odeio!
E enquanto gritava e socava a água de raiva eu escutava sua risada, parecendo satisfeito em me ver nervosa.
*****
POV Embry
Eu não faço ideia de como cheguei aqui, apenas me encontro agora sentado debaixo de uma figueira, tão cheia que seus galhos se curvam com o peso de seus frutos, a aparência deles é de encher os olhos, são tão grandes e ao meu ver parecem ser suculentos. Me levanto e começo a caminhar, há um campo cheio de flores tão lindas e coloridas, os dentes de leão voam livremente, posso ver um lago e peixes que saltam, de suas águas límpidas brota um lindo arco-íris.
Consigo me lembrar dos últimos momentos antes de estar aqui, consigo me lembrar dos sanguessugas que me atacaram, sedentos de sangue, matando sua fome com a minha carne, saciando sua sede com meu sangue. Mas me sinto em paz, sem dor, meu corpo inteiro sem nenhuma ferida.
–Deus! Eu estou morto. - constato, tristemente, pois nunca mais veria meus entes queridos, nunca mais sentiria os lábios da minha Leah, suspiro tristemente olhando os campos verdes na minha frente.
Acho que, afinal de contas, fui um bom filho, um bom irmão, por estar aqui nos campos eternos.
Continuei caminhando, não sei para onde, não conseguia ver nenhum sinal de outra alma penada, durante o meu caminho consigo chegar até uma planície, onde vejo muitas pessoas, muitas se abraçam, outras conversam sentadas na grama, como se fosse uma reunião.
Dou um giro de 360° vendo tudo a minha volta, acho que finalmente cheguei ao local do repouso eterno.
–Não! Ainda não!
Escuto alguém falando comigo como se adivinhasse meu pensamento, meus olhos seguem adiante, vendo um homem de mais ou menos cinquenta anos, seus cabelos todos brancos e curtos, suas vestes de um branco impecável, são simples, seu sorriso é sincero, seu olhar demonstra uma alegria sem tamanho, ele é alto, forte, se parecesse com o Sam.
Meu coração se enche de alegria a medida que ele se aproxima e eu o reconheço, logo ele está diante de mim.
–Charles... Meu avô? – pergunto, ainda hesitante, com medo de que ele me rejeite.
Ele para, erguendo uma sobrancelha, me olhando fixamente, vejo o brilho nos seus olhos, consigo ver as lágrimas se formarem. Colocando as mãos na cintura, como o Sam faz, ele abre um sorriso sincero e me fala com sua voz forte igual a do meu irmão Sam:
–Eu sabia que um dia iria realizar esse sonho, ouvir você me chamar de avô... Meu Embry, meu neto.
Eu vou para ele o abraçando apertado, ele me envolve em seus braços, é real, sinto seu abraço amigo, seu carinho é palpável... E eu agradeço por isso, por nos encontrarmos. Minhas lágrimas escorrem, me sinto como um menino, jamais poderia imaginar que teria essa sensação em abraçá-lo, nós dois choramos, é um momento impossível de descrever.
Ele se desvencilha de meus braços, me olha, toca meu rosto, meus cabelos e ri, parecendo não acreditar.
–Meu pequeno, meu pequeno! - ele diz sem parar, devia me chamar assim, pois a forma como ele me chama “meu pequeno” me soa tão familiar, como se ouvisse isso por toda a vida.
Limpo minhas lágrimas mais uma vez , me desvencilhando dos seus braços.
–Estou muito feliz em te ver vô, eu também desejei muito esse encontro, li a sua carta, vi a foto que tiramos juntos, vô saber que o senhor me amou, me deu tanto carinho... Eu... Eu... - minha voz é calada pela emoção, enquanto ele acaricia meus cabelos.
–Ah Embry, meu pequeno... - ele ri. –Pequeno que já é um homem feito, tão bonito, forte. Você me enche de orgulho, agradeço por você e seu irmão serem homens de caráter, tive medo de que fossem como... Ah, deixa pra lá! Eu também queria estar com vocês, ainda mais agora nesses tempos negros. Mas meu ciclo na terra se encerrou.
Eu o olho, feliz.
–Mas agora estaremos juntos vô, eu e o senhor, e teremos muito tempo para conversar.
Ele ri fracamente.
–Ah, meu pequeno Embry... Ainda não está morto.
O olho sem entender.
–Mas...Vô, aqui não são os campos eternos?
Ele apenas sorri...
–Venha, vamos caminhar um pouco, enquanto conversamos, temos pouco tempo.
Me posto ao seu lado enquanto caminhamos.
–Esse ainda não é o campo filho, esse lugar tem vários nomes, cada povo o chama de algo diferente... Tír Na Nóg para os Celtas, os Galeses chamavam de Annwn, mas nós o chamamos de Limbo, o purgatório dos Cristãos, as pessoas acham que é um lugar de limpeza dos pecados, mas o limbo é o que você imagina na hora da sua morte, seja paraíso ou fogo eterno, é um lugar de espera para o retorno.
–Então o senhor irá voltar? – pergunto feliz e ele me olha, sorrindo maroto.
–Ainda não sei. Quem sabe... Mas eu estou aqui para falar com você seriamente.
Seu semblante mudou e eu já imaginava sobre o que seria essa conversa.
–Embry, essa batalha ainda não começou, muitos momentos difíceis virão, muitas lágrimas e sangue serão derramados, e é nesse momento que vocês devem se manter unidos.
Nós paramos nos sentando perto do lago, enquanto ele falava eu o ouvia atentamente.
–Os inimigos são difíceis, mas vocês não estarão sozinhos, vocês são maiores do que pensam ser, me escute guardião, terás que fazer algo, os espíritos devem ser libertos, os velhos espíritos que lutaram nas antigas batalhas ao lado dos lobos.
Eu o olhei seriamente a medida que seu tom mudou.
–Que espíritos vô?
–Fale com o Ateara, ele sabe o que é, diga que os Quileutes devem fazer o Samhai.
Nunca ouvi falar nisso.
–O que é o Samhai? E de que forma isso irá ajudar?
–Ajudará não a vocês, elas irão encontrar nosso povo, é preciso fazer Samhai para que o nosso povo possa nos ajudar.
–Que povo, vô? Existem mais Quileutes?
Ele para, exasperado...
–Ah Embry, me escute, eu não tenho muito tempo, faça isso, fale com o Ateara, diga que é preciso que o Samhai seja feito, e depois suas perguntas serão respondidas. Agora venha, antes de você ir tenho uma surpresa.
Nos levantamos e continuamos a caminhar, minha cabeça está uma confusão, será que me lembrarei disso quando eu voltar? E que diabos é esse Samhai, quem são elas?
–Vô, eu não entendo... Tenho que saber o que tudo isso significa.
–Embry, eu sei que está cheio de perguntas, mas filho... Eu não as posso responder, já fiz muito além do que me foi permitido, agora cabe a você como guardião ajudar, você compreende?
Ele para me olhando, eu suspiro.
–Sim, meu avô, farei como o senhor disse.
Ele sorri e bagunça meus cabelos.
–Muito bem... Muito bem... Ah, eu já te contei a lenda de Ioux da Águia e do Falcão?
Sorri, ele fala como se sempre estivéssemos juntos.
–Ainda não.
Ele assente, divertido, enquanto caminhamos juntos.
–Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do chefe, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas até a tenda do velho xamã da tribo ...
–Nós nos amamos... E vamos nos casar. - disse o jovem. -E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... Alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... Que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?
O velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:
–Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada...
Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo... - continuou o feiticeiro. -Deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim, viva! Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada...
Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo... - continuou o feiticeiro. -Deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim, viva! Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada...
Eu o olho maravilhado com sua história.
–E deu certo, vô? - pergunto ansioso.
Ele sorri.
–Tenha calma e preste atenção. Um bom guardião é paciente e atencioso, Embry Uley. - diz e eu sorrio ao ouvir ele me chamar com seu sobrenome.
Ele de repente para e me olha seriamente, eu o acompanho tirando o sorriso do rosto e ficando sério como ele, que depois sorri e continua:
–No dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco. O velho pediu, que com cuidado, as tirassem dos sacos... E viu que eram verdadeiramente formosos exemplares...
–E agora o que faremos? - perguntou o jovem. -As matamos e depois bebemos a honra de seu sangue?
–E agora o que faremos? - perguntou o jovem. -As matamos e depois bebemos a honra de seu sangue?
–Ou cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.
–Não! - disse o feiticeiro. -Apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... Quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres. O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... A águia e o falcão tentaram voar, mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do voo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.
E o velho disse: Jamais esqueçam o que estão vendo... Este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure... Voem juntos, mas jamais amarrados.
E o velho disse: Jamais esqueçam o que estão vendo... Este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure... Voem juntos, mas jamais amarrados.
Paramos de caminhar, foi inevitável não pensar na Leah, meu avô me olha e sorri.
–Antes de você ir, não poderia deixar de ver uma pessoa, e que levasse alívio para o coração de quem sofre tanto.
Ele aponta e eu me surpreendo com o que vejo, não poderia ser... Caminhei em sua direção, primeiro com passos pequenos, mas depois acelerei até que cheguei diante dele, sentadinha na grama me olhando com um sorriso e um fiapinho de baba escorrendo.
–Dean... Dean! - o pego em meus braços o beijando. -Você lembra de mim? Diz Embry... Embry...
–Bi... – ele me responde com um sorriso.
Eu o abraço feliz, sua boquinha em meu rosto babando tudo, como sempre fazia, e uma gargalhada sai dele. Sinto as mãos de meu avô em minhas costas e o olho sorrindo, só então percebo a mulher que estava também ali sentada, mas que se levanta, sorrindo para mim... Ela me lembra alguém.
–Embry, você se lembra da Sarah Black?
A olho espantado... A mãe do Jacob aqui.
–Nossa, que surpresa! - exclamo sem ter outra coisa para falar, dada a minha surpresa.
Ela sorri, vindo acariciar o neto, eu olho para Dean que sorri e fala meu nome ou pelo menos como ele me chamava: “Bi”.
–Bella faria tudo para ter um momento desse. - falo tristemente. -Ele sofreu tanto vô, porque tinha que ser desta forma?
Meu avô acaricia os cabelos do Dean, que sorri com o dedinho em sua boca.
–Porque ele precisava salvar a mãe dele de um destino que não era o dela e sim foi imposto, ela precisava ver a verdade de quem ela se transformaria. Não se preocupe Embry, Dean agora está bem. Não é Dean? - meu avô fala com ele que lhe sorri, eu abraço Dean fechando meus olhos.
–Sentimos sua falta Dean, muito, todos os dias, a cada segundo. - o beijo mais uma vez.
–Embry, vocês logo estarão juntos.
Encaro meu avô num misto de alegria e surpresa.
–Mas não nessa forma e sim em outra, mas você saberá, agora venha, é hora de voltar.
Entrego Dean para Sarah e me volto para o meu avô. Começamos a caminhar enquanto ainda me viro algumas vezes para olhar Dean pela última vez.
Nosso caminho foi silencioso, ele não dizia uma palavra e caminhava sempre olhando para frente, eu o olhava e via que seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ele se mantinha forte.
Nós enfim paramos, ele se virou para mim, é chegada a hora da nossa despedida.
–Não se preocupe Embry, você não vai esquecer nada, mas fale com o Ateara. - me olha com carinho, suas mãos tocam meu rosto. -Meu pequeno... Tão forte... Um guerreiro.
–Eu não quero ficar sem você, vô. - o abraço como uma criança.
–Meu pequeno... É preciso, tantas pessoas esperam sua volta, um dia vamos estar juntos, eu prometo isso, agora vá, é chegada a hora... Lembre-se de que eu te amei desde que te vi nos braços da sua mãe e te peguei nos meus.
Ele coloca a mão em minha testa.
–Orei... - ele fala fechando os olhos, depois beija a minha testa. -E te disse: seja bem-vindo Embry Call Uley... Meu neto.
Quando ele termina de falar eu já nem contenho mais minhas lágrimas, o abracei fortemente me agarrando a ele, não quero deixá-lo, e ele também parece querer o mesmo... Estender esse momento o máximo que pudermos...
*****
La Push
Ele acordou aos poucos, seus olhos abriram devagar, se acostumando com a penumbra. Lentamente viu que o quarto não estava totalmente escuro, ao seu lado um abajur iluminava, seus olhos vagaram rapidamente pelo ambiente, ele ainda estava deitado, mas percebia algumas coisas, e pôde ver que ali não era o seu quarto, nem nenhum outro da sua casa.
Um cheiro familiar, amadeirado, o fez reconhecer quem estava ali ao seu lado, ele não pedia ver muito bem, mas percebia que havia alguém ao seu lado e que dormia... Era ela: Leah.
Sentada em uma cadeira ao lado da sua cama, sua mão em volta da dele, ela estava adormecida, seu coração disparou, e ele sentia um alívio em ela estar ali ao seu lado.
Embry se lembrou de cada detalhe de seu encontro com o avô, como queria ficar com ele só um pouco mais, e infantil foi o pedido que veio em sua mente: “Por favor, Deus, deixe meu avô ficar comigo, por favor!”
E com esse pedido uma lágrima escorreu, pinicando sua pele, ele fez uma pequena careta ao desconforto, respirou profundamente e viu Leah se levantar imediatamente, o olhando.
Leah, em nenhum minuto saiu de perto de Embry, mesmo sua Bisa a tranquilizando, ela queria estar ali ao lado dele o tempo todo, queria ser a primeira a estar ali quando ele acordasse.
Os primeiros dias foram difíceis, Embry tinha febres altas e delirava.
Assim como Leah, os demais sempre estavam por ali, mas a ronda não podia parar, Sue e a mãe de Embry vinham constantemente mudar seus curativos, ver a cicatrização que todos não entendiam do porque estar tão lenta.
Leah sabia o porquê... Jacob havia lhe contado, apesar da gravidade ela tinha esperança pela melhora dele, mas havia tomado a decisão de que se o pior acontecesse ela o seguiria, pois a vida sem Embry não teria mais sentido.
Naquela noite Leah chegou para ficar ao lado de Embry, tinha passado em casa, tomado um banho e voltado para a casa de sua prima, diferente dos outros dias, Bisa estava sentada na varanda olhando o nada e fumando seu cachimbo. Sam estava na ronda e Emily preparava um chá para ela e Bisa.
Bisa olhou para Leah, estava tranquila e sorriu serena.
–O que faz aqui fora Bisa? - Leah lhe perguntou com certa expectativa de que ela lhe dissesse que Embry estava acordado.
A velha índia a olhou suspirando:
–Estou esperando um velho amigo.
Leah lhe deu um beijo no rosto carinhosamente.
–Vou ver como o Embry está.
Foi passando por Bisa , mas a índia lhe disse:
–Quando a luz chegar ela não só irá levar embora a escuridão, mas trará consigo sorrisos e alívio para nossos corações.
Leah sorriu e torceu para ela estar certa.
Ao entrar na casa cumprimentou Emily, que informou que o estado de Embry continuava o mesmo, conversaram brevemente até que Leah subiu as escadas indo até Embry, se debruçou dando um beijo no seu rosto machucado, por cima das ataduras mesmo.
–Oi amor... Estou aqui, desculpe ter demorado.
E ali, colocando uma cadeira ao lado da cama, acariciou os cabelos dele que já estavam com uma franja comprida, e sorriu.
Sam estava pegando no pé dele por causa do cabelo que estava um pouco mais crescido, Leah gostava, adorava ficar acariciando os cabelos dele quando Embry deitava em seu colo, e chegava a adormecer com seus carinhos, gostava de quando faziam amor, seus dedos entravam pelos cabelos dele em carícias que em determinados momentos viravam apertos.
Não soube bem quando adormeceu, mas acordou com sua audição apurada ouvindo um baixo gemido e um suspiro profundo, levantou seu rosto para ver se Embry estava com febre ou outra coisa, mas ficou estática ao ver que ele estava acordado.
Um sorriso brotou nos lábios da loba, acompanhado de um sussurro do nome dele...
–Embry.
Ele a olhou seriamente, a encarando e surpreendeu a loba com sua pergunta, a fazendo quase entrar em pânico:
–Quem é você? - perguntou enquanto a olhava, sua voz, assim como a dela, foi um sussurrar, mas pelos ferimentos em sua face.
Leah enfraqueceu seu sorriso, estava prestes a gritar, quando Embry lhe deu um fraco sorriso.
–Minha goiabinha.
Leah até então não havia percebido que tinha parado momentaneamente de respirar, e sentiu uma vontade de bater em Embry pela gracinha, mas estava tão feliz, pois ele havia acordado e estava com suas brincadeiras novamente.
Sorriu, os olhos cheios de lágrimas.
–Pelo amor de Deus, não faça isso. - acariciou o rosto dele. –Não sabe o que passamos nesses dias.
Embry a olhou e percebeu o quanto ela deve ter sofrido.
–Seu olhar já me diz.
Tudo o que Leah queria nesse momento era abraçá-lo, e foi isso que fez, com alívio e emoção se debruçou sobre ele, as lágrimas caíram. Sentir ali seu Embry novamente, agora sim acordado e fazendo gracinhas, era tudo que ela tinha desejado nessas últimas semanas. Enfim ele estava novamente com ela.
–Alguém sentiu a minha falta? – ele brincou mais uma vez.
Leah deu um risinho, levantou seu rosto, as lágrimas caindo.
–Eu amo você. - foi a única coisa que disse antes de delicadamente tocar os lábios dele com os seus.
***
Do lado de fora, a velha índia sentada na varanda olhava para a noite, passou a noite inteira ali, vendo as estrelas, respirando o ar da reserva Quileute, e na memória revivia seu passado.
–Parece que foi ontem que caminhávamos juntos nessa reserva.
Uma voz grossa e masculina soou quebrando o silêncio.
Bisa sentiu o cheiro amadeirado característico dos lobos, ela não olhou para o velho índio que sentou ao seu lado... Não precisava olhá-lo para saber quem era, seu velho coração deu uma sacudida e ela suspirou.
![Taylor Lautner JB [FANFICS]](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHTGoIs8t1Lp70uOln0Mvys0kDTuSwodnnn_m8k3UTZCwtzHg19ZdtvP9Ceb8kjaD18t_W08EgJYiFFDWTwHB1EzNfes3GhhrAtG6C5m1d7lOUwkOT0sqkz5hNwLqlLBY_ptJEtrDtfok/s1600/tljb+fanfics.png) 


