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Capítulo 14 - Guerreiros [O ultimo amanhecer]

              
                 Capítulo 14 - Guerreiros

POV Jared

Há muito tempo eu não vinha a esse lugar... O som das guitarras potentes domina o ambiente, eu gosto disso, gosto de Heavy Metal, me faz um exorcismo mental de demônios e emoções, quando o som da guitarra pesada ou a batera invade meus ouvidos posso sentir como se a melodia pesada passasse por cada célula do meu corpo, cada parte de mim, indo repousar no meu celebro me dando o torpor que eu desejo, tudo aliado a uma boa dose de álcool e um bom baseado... Não! Me sinto agressivo acho que uma boa cheirada seria melhor.

Há algum tempo atrás eu faria isso, daria uma boa cheirada com uma boa dose de álcool, arrumaria uma garota e foderia com ela a noite inteira.

Sem drogas Jared! A voz do Sam vem na minha cabeça, foi a primeira coisa que ele disse quando me transformei em lobo, de lá para cá nunca mais cheguei perto de nada.

Uma das coisas que larguei quando virei lobo, eu não sou viciado, usava apenas quando eu ia para um som, usava também quando eu estava a fim, nunca precisei disso para me divertir, era apenas um complemento da noite.

Dou uma olhada para mim mesmo, e dou um sorriso diante do espelho do meu quarto antes de sair, achando até graça, não sei como consigo ficar tanto tempo sem o visual... Camisa preta com mangas cortadas do Slayer, calça jeans por dentro do velho par de coturnos muito bem engraxados, saí do quarto vendo o meu velho sentado no sofá resmungando e bebendo alguma coisa, a reunião não foi como esperávamos, os pais de Brady e Collin juntamente com alguns aliados do conselho se unirão para dar um golpe contra o Sam, abutres, como podem se aproveitar de um momento desses?! Fomos proibidos de obedecer a qualquer ordem do Sam e as rondas estão suspensas provisoriamente, tudo uma grande merda, uma grande armação, se aproveitaram de um momento de fraqueza de todos. Após a reunião não havia mais nada a fazer, voltamos para casa e então decidi que aqui não ficaria, precisava esfriar a cabeça, liguei para Kim contando como foi a reunião e ela disse que viria, mas pedi que me deixasse um pouco sozinho, ela protestou, mas acabou entendendo. Quando passei pela sala disse ao meu pai que não me esperasse.

–Não faça besteira Jared, você ainda é um lobo.

Não falei nada, saí e aqui estou... No velho e bom clube do rock, graças ao meu faro posso sentir o cheiro forte de álcool das mais diversas bebidas, garotas perfumadas, lindas e sexys me olham e vêem sorrindo até a mim, me abraçando maliciosamente e cochichando em meu ouvido, e eu apenas sorrio para elas.

Continuo andando indo até o balcão do bar onde peço uma cerveja que vem quente, certo eu esqueci que esse lugar não muda, a cerveja vem quente e o banheiro é uma desgraça, mas quem liga? O som é muito bom, alguma coisa teria que compensar, fico de bobeira no balcão bebericando minha cerveja, vendo a galera na frente do palco gladiando ao som do Necrotério que é uma das minhas bandas favoritas.

–Ei Funebre! Funebre!

Alguém chama um nome que eu jurava nunca mais escutar, meu velho apelido, eu me volto vendo diante de mim os velhos caras com quem eu andava. Nos cumprimentamos.

–Não acredito cara! Quanto tempo...

Riso era um amigo das antigas, ele é mais alto, tem um cabelo comprido, bem alegre, os outros caras também conheço.

Pedimos mais umas cervejas e ficamos trocando idéias como antigamente, em um dado momento o Riso saiu e quando voltou já acompanhado de uns caras me chamando entregou algo e me disse:

–Pra comemorar sua presença!

Olhei e deveria ter umas 20 gramas de pó.

–E aí, vamos lá da uns tirinhos?

Ele me chama, o convite era tentador, afinal era pra isso que eu tinha vindo aqui, me embriagar, dar uns “tecos” e ficar muito doido.

–Vai lá, daqui a pouco eu dou um chego lá...

Ele sorriu saindo, coloquei o pacotinho no meu bolso e continuei encostado no bar bebendo minha cerveja e pensando que diabos eu estava fazendo ali, me lembrei dos meus irmãos, das nossas reuniões animadas, onde o Jacob ou o Quil pegavam um violão, Seth pegava uma gaita, Kim ou Emily se animavam em cantar e nós íamos noite adentro cantando, rindo, bebendo algumas cervejas, nada mais que isso, tudo muito saudável, bem familiar. Me lembrei do Dean que sempre ficava conosco e no meio da animação não aguentava e caía no sono no meu colo ou no colo de alguém. Por mais que eu gostasse daqui, de ouvir o som pesado, eu não me sentia bem agora, eu queria alguém comigo, alguns dos irmãos, não sei...sinceramente eu não sei... oh merda, estou tão pra baixo.

Uma mesa vagou e eu aproveitei para me jogar nela, peguei mais uma cerveja e fiquei na minha, observando o líquido dourado que continuava quente.

–Jared...

Essa voz é familiar e eu não acredito, não pode ser... Levanto meu olhos e meu pai está diante de mim parado, ele me olha com uma expressão meio triste, meio de cão abandonado.

–Ei pai, senta aí, o que o senhor faz aqui?

Ele se sentou com um meio sorriso e meio sem graça disse:

–Estou chateado demais, não queria ficar sozinho e vim saber se poderíamos beber alguma coisa juntos, o que você está bebendo mesmo?

Eu sorrio para ele, ele é incrível, é um grande amigo, abdicou de sua vida por mim, deu o divórcio a minha mãe, mas pediu que me deixasse com ele.

–Cerveja pai, mas está muito quente.

Ele sorri parecendo um menino, e eu me pergunto quem é o garoto da mesa afinal... Eu, ele ou seria nós dois?

–Você não sabe pedir, em um lugar como este você deve saber pedir Jared... Veja...

Ele faz um sinal para a garçonete que vem prontamente.

–Como é o seu nome gatinha? - ele segura em sua mão.

A garota olha pra mim e depois para ele.

–Judy...

Meu pai lhe lança um sorriso.

–Bonito nome... Assim como a dona.

Eu começo a rir e a garota revira os olhos não gostando do elogio, ela deve receber esse tipo de cantada todas as noites, meu pai percebendo isso continuou a conversar em um tom divertido.

–Porque vocês garotas quando são elogiadas não gostam? Você é linda, seu nome é bonito, mas já que você se sentiu ofendida e acha que é uma cantada chata de um coroa chato, vou retirar o elogio e vou mentir... seu nome é lindo, mas você é feia.

Porra! Abaixei minha cabeça depois dessa.

Ele falou isso e ela acabou sorrindo.

–Ta legal... Valeu pelo elogio, o que vão querer?

Ele sorri.

–Olha, eu to aqui com meu filho, mas a cerveja está super quente, traz uma cerveja pra gente bem gelada, aquela que está no fundo do freezer guardada pra você e o barman beberem depois do expediente.

Ela me olha sorrindo.

–Ta legal, vou ver se consigo uma gelada.

Ela sai me olhando e meu pai se volta para mim.

–Quando você quer algo de uma garota a elogie sempre, fale dos olhos, do sorriso.

–Valeu pela dica pai...

Nossas cervejas chegaram e incrivelmente geladas, ponto pro velho que olhou para a garçonete agradecido.

Ela sorri para ele e me olha com um olhar bem sedutor.

–É a primeira vez que bebemos juntos e eu estou muito feliz por isso filho, sempre quando te via dormir imaginava você crescido, nós dois bebendo juntos, conversando sobre garotas, festas, sempre quis isso, quando você nasceu foi o dia mais feliz da minha vida, chorei pra caramba... - ele sorri e eu rio da forma que ele falou.

–Se ela não tivesse deixado você comigo acho que eu teria morrido filho, do nosso amor você foi tudo que restou.

Seus olhos se encheram de lágrimas, papai não falava muito da mamãe, mas quando ela ligava perguntando sobre mim ele sempre falava com ela no telefone, e ao final da ligação quando ela já tinha desligado ele sempre dizia um “boa noite amor” ou um “até mais amor”, uma vez ela ficou um tempo sem ligar, ele tinha feito uma grande merda, disse a ela que ainda a amava e ela acabou brigando com ele, pedindo que ele a esquecesse, acho que isso foi o pior para ele... Ele sofreu muito mais com suas faltas de notícias então eu liguei para ela e pedi que, por favor, voltasse a ligar já que ela não sentia mais nada por ele, já que tudo para ela acabou, que pelo menos ela tivesse consideração pelo amor que ele ainda sentia por ela, e desse a ele o conforto de ouvir sua voz, ela voltou a ligar e ele voltou a sorrir, só que se controla mais agora.

–Esquece isso pai, estamos juntos e ela está feliz com a vida dela, no fim das contas todos ficamos bem.

–Você tem sorte filho, eu infelizmente não tive um imprinting. - ele diz chateado, mas respirou fundo e sorriu.

–Vamos esquecer isso.

Nós bebemos e conversamos sobre tudo que aconteceu na reunião, até que vi o Riso que veio me cumprimentar dizendo que iria embora, ele falou com meu pai e então me lembrei do que eu tinha no bolso, retirei e mostrei ao meu pai. Ele me olhou dando um gole em sua cerveja.

–Se você usar isso vai quebrar sua promessa ao Sam, você prometeu que não usaria mais Jared, mas se acha que isso vai te fazer melhorar, mesmo que seja por algumas horas, siga em frente, eu estarei com você.

Pensei e vi que não era mais a minha, isso pertenceu a uma outra vida, olhei em volta vendo as pessoas, algumas estavam curtindo numa boa, a grande maioria ria, se divertia, mas havia outras em estado decadente... Eu já fiz tantas loucuras, coisas que me arrependo, sempre acabava com alguma garota, não por achar ela interessante, nem bonita, só queria mesmo era transar, de todas as maneiras como um animal, e no fim acabar a descartando, uma falta de respeito com a pessoa, e eu me sentia uma merda por tratar a tal menina daquele jeito. Me transformar em lobo me fez mudar, me fez ver como eu era um babaca, como essa merda de droga entrava na minha cabeça me fazendo perder o respeito, me fazendo um verme, meu lobo me salvou de mim mesmo.

–Não pai, prefiro ficar aqui com você bebendo nossa cerveja.

Ele balança a cabeça sorrindo e confirmando, continuamos ali tomando todas, curtindo o som.

No fim da noite percebi que não poderia ficar assim, tudo que construímos, tudo que o Sam pregava, como respeito, união, amizade, família, não poderia ser jogado no lixo, eu não deixaria Kevin e o restante daquele conselho acabar conosco, e também nós teríamos alguns vampiros para matar.

No outro dia acordei cedo, meu pai estava na cozinha preparando o café, enquanto isso liguei para a Kim e disse para ela vir, não demorou muito para ela estar em casa.

Abri a porta com um sorriso, ela sorria linda, me abraçou e me deu um beijo gostoso, aspirei seu cheiro e acariciei seu rosto, como eu amo a minha garota.

–Jared, como você está?

Eu lhe beijei carinhosamente mais uma vez, um selinho casto.

–Morrendo de saudades de você e com uma ressaca chata.

Faço uma careta e ela me olha recriminadora.

–Andou bebendo...

Mas antes que ela continuasse meu pai chegou na sala com duas canecas de café.

–Não se preocupe Kim, ele estava comigo, foi apenas uma noite de pai e filho.

O semblante dela ficou mais sereno.

–Bem, já que foi isso, está perdoado.

Ela me deu um selinho, sentou ao meu lado, meu pai estava em sua poltrona.

–Pai, eu pensei e decidi que não vou ficar aqui parado esperando o veredito desses canalhas, enquanto estamos aqui nossa fronteira está desprotegida e os Cullens ainda estão lá.

Meu pai pensou...

–E o que você pretende Jared?

Respirei fundo...

–Ir até a fronteira e espionar.

Ele me olhou pensativo, mas foi Kim quem se manifestou.

–Mas você sozinho... Pode ser perigoso Jared.

Eu segurei em suas mãos a tranqüilizando.

–Amor... Sou um lobo, e mesmo que nesse momento meus irmãos estejam fracos eu tenho que ser forte, sou o único que sobrou, Kim, eu fiz um juramento que defenderia minhas terras e meu povo assim como meus antepassados, que honraria as tradições que fui criado. E será isso que vou fazer.

Ela me olhava séria enquanto eu falava, depois ela se segurou em mim com força e me beijou, meu pai continuou calado.

Tomei um café reforçado e fui tomar um banho, logo eu estava apenas vestido com uma bermuda, Kim me esperava na sala, mas não vi meu pai, respirei fundo indo até ela que se levantou vindo me beijar.

–Toma cuidado Jared.

–Pode ficar tranqüila, eu sei me cuidar muito bem.

Estava de saída quando meu pai apareceu...

–Espere Jared. – ele disse fazendo Kim rir e eu revirar os olhos.

Ele estava de botas, tinha vários crucifixos, senti o cheiro de alho que deveria estar em seu bolso, seu rosto estava pintado no estilo de camuflagem, empunhando uma velha espingarda de caça.

–Pai, o que você está fazendo, aonde vai assim?

–Acompanhar você nessa missão. Acha que vou deixar meu filho ir sozinho para perto das trincheiras inimigas? Não senhor.

Kim me olhava segurando o riso, fui até ele segurando os penduricalhos.

–Crucifixo, alho, estaca... Aposto que até balas de prata tem.

Ele fez uma careta.

–Claro que não, mas tenho água benta do rio Quileute.

–Pai, pelo amor de Deus, esses vampiros não são como os que o senhor vê em filmes, eles são quase indestrutíveis, isso provavelmente vai matá-los de rir, e além do mais não posso deixar o senhor ir.

–Jared... Eu sou o seu pai, e se você pensa que vou deixar meu único filho sozinho perto daqueles assassinos pode tirar o cavalo da chuva rapaz porque, você queira ou não, eu vou.

Olhei para a Kim que estava vermelha de tanto segurar o riso...

–Desculpa amor, mas vou ficar mais tranquila se seu pai for com você. – ela disse sorrindo.

Bufei... Eu conhecia o velho e mesmo que eu chamasse toda a guarda nacional, ele não mudaria sua opinião, e com Kim ao lado dele eu estava vencido.

–Obrigado Kim por esse apoio, está bom pai, mas lembre-se, temos que ficar contra o vento e fazer o mínimo de barulho possível.

Ele me olha sério estufando o peito.

–Não esquenta, cara! Eu fui boina verde no Vietnã! Vamos nessa!

A todo instante a musiquinha do filme “A ponte do rio Kuwait” vinha na minha cabeça... Eu fui na minha forma humana, seria mais fácil para me manter escondido do que um lobo de 2 metros. Chegamos perto da fronteira e teríamos que ficar contra o vendo.

Subimos em uma pequena colina onde de lá eu poderia ficar os vendo, rastejamos e ficamos deitados para nos mantermos mais escondidos, o vento estava contra eles, e a vista da colina é perfeita, posso ver muito bem pelos vidros enormes que a mansão tem... Minha visão é a mais apurada dos irmãos, então poderia ficar afastado o suficiente para não entrar no território deles e para manter meu pai em segurança.

Meu pai pegou um velho binóculo e ficamos observando.

–Está vendo alguma coisa filho?

Eu vi três sanguessugas, o chefe deles, a esposa e a loira que é esposa do grandão que o Paul não gosta, apenas eles, me pergunto onde estão os outros.

–Pai, tem alguma coisa estranha, os sanguessugas que atacaram o Dean não estão mais lá, só vejo o chefe, sua esposa e mais uma outra, não consigo ver os outros.

Meu pai me olha e resmunga.

–Maldição, os safados fugiram enquanto Kevin fazia seu golpe, perdemos tempo.

Mas tinha alguma coisa estranha...

–Mas porque eles ficaram pai? Porque não foram todos?

–Porque eles acham que vão se safar dessa, mas os faremos em pedacinhos.

–Não sei pai... Tem alguma coisa errada, alguma coisa não se encaixa, espero que você tenha trazido bastante comida pai, não vou sair daqui tão cedo.

A questão agora que passava na minha cabeça era o porquê eles não foram embora, depois do que eles fizeram era claro que todos deveriam ter ido embora, o acordo foi quebrado, eles mataram um de nós, mas o que eu via era que eles estavam tranquilos como se nada tivesse acontecido, menos a loira, eu a vejo vindo até a varanda, ela fica lá por um momento, seu semblante parece triste, estranho ela não ter ido junto com o companheiro dela, por quê? Logo ela foi chamada e entrou novamente na casa.

Eles tem um comportamento estranho, tem alguma coisa podre nisso e eu vou descobrir.



Duas semanas depois

POV Emily

Caos... Foi o que se transformou a nossa vida, há duas semanas meus meninos não vêem aqui, a casa ganhou um ar triste, nunca imaginei meu lar sem meus meninos aqui, com a matilha na mão do conselho Sam foi afastado do posto de Alfa, com isso nenhum dos meninos tem permissão de vir aqui, isso o está matando, eu tento ser forte, digo a ele que não se preocupe, que tudo dará certo... Mas me mata vê-lo triste, jogado em um canto. Quando coloquei nossa refeição e ele se sentou à mesa e a viu sem nenhum dos meninos vi seu olhar vasculhar cada lugar vazio da mesa, parecia perdido em lembranças.

–A casa sem os meninos fica tão sem vida... - ele diz, seus braços caídos de lado. -Sem as brigas e implicâncias entre o Jacob e o Paul, sem as reclamações do Jared... Você lembra do Natal Emy? Você queria um Natal em família com todos reunidos, deixou a torta na janela para esfriar um pouco e quando foi ver ela tinha sumido, quando você conseguiu achar Jared e Embry haviam roubado e a comido inteira, eles tinham o rosto cheio de migalhas e o Jared ainda estava com a boca cheia.

Ele ri e eu fico o olhando, me lembrando desse Natal.

–E o Seth... Ansioso para abrir os presentes... Nossa, ele ficou feliz com o vídeo game que eu comprei pra ele, Dean ganhou tantos presentes, mas o que ele mais gostou foi o filme do Nemo que eu comprei, ele adorava aquela parte da Doroti falando baleeis... Ele adorava quando eu imitava, ria muito, Jacob ficava bravo porque não conseguia fazer igual, Paul também tentou, mas ele me olhava e dizia “Dáda” como quem diz “Vamos tio, faça de novo” e eu fazia, o Dean só ria quando eu fazia isso, Bella dizia que eu iria ter que ensiná-la a fazer igual...

Ele sorriu perdido em lembranças e continuou...

–Você estava achando que o Quil não viria, pois ele estava na casa da Ângela, eu tentava te tranquilizar, mas você estava morrendo de ciúmes e ficava reclamando que ele agora não ligava mais pra você, nem para o que você fazia, pois era tudo Ângela e Ângela, até que ele chegou com ela e você foi logo abraçá-lo... Leah vestiu o Embry de Papai Noel por causa do Dean, Paul que já estava de fogo deu um copo de uísque para o Embry e os dois decidiram subir no telhado para o Embry entrar pela chaminé, mas acabou os dois caindo porque o telhado estava com neve e o Embry estava bêbado, o Jacob rolava no chão de rir que mal conseguia falar, Leah brigou com o Paul dizendo que ele era o culpado.

Ele riu muito, mas seus olhos se encheram de lágrimas, e ele esconde o rosto chorando feito criança.

–Eu quero nossa família de volta Emily, pouco me importa se serei Alfa ou não, eu só os quero de volta! Quero meus irmãos de volta! Eles não podem fazer isso comigo... Não podem.

Fui até ele o abraçando e acabei chorando com ele, isso o estava matando.

–Eles vão voltar amor, vão voltar... Nossa família vai estar junta novamente.

Ele é durão, como um Alfa tem que ser, mas amava cada um dos meninos, os protegia... Muitas vezes ele chegou aqui nervoso por ver o Jacob sofrer, muitas vezes o impedi de ir até a casa dos Cullens para falar com a Bella. Ele não é mau, seu temperamento meio rude pode parecer que ele é um mandão, mas Sam ama cada um desses meninos e os protege contra qualquer um, até mesmo contra o conselho.

As coisas não estão boas, com a decisão do conselho e a matilha em suas mãos estão todos sofrendo, Paul é o que mais me preocupa, há alguns dias ele se transformou em lobo e sumiu, Rachel ficou quase louca, quando o acharam ele estava em uma espécie de caverna não muito funda, estava deitado e de lá não se levanta para nada, nem com a ordem do Sam ou o pedido da Rachel, nem o Velho Ateara consegue fazê-lo voltar, Sam e os demais acham que de alguma forma o lobo dele escolheu o Dean tal qual um cão cria amor pelo seu dono, ao ponto de entristecer com a falta dele, isso aconteceu com o Paul, a tristeza do lobo o está matando pouco a pouco.

O telefone toca me fazendo despertar dos braços do Sam, ele se afasta de mim enxugando as lágrimas com as costas das mãos como um menino, atendo e é a minha mãe.

–Oi mãe... - tentei disfarçar a voz chorosa.

–Oi filha... Sua voz não me parece nada boa, aconteceu alguma coisa?

–Ah mãe, as coisas não estão boas por aqui...

Comecei a contar a ela o que estava acontecendo, mas ocultando a parte dos lobos, pois ela não sabe sobre eles, contei sobre a morte do Dean e como isso abalou a todos, ela pareceu assustada.

–Deus do céu, há alguns dias sua bisavó disse ter tido um sonho muito ruim de um filhote de búfalo sendo devorado por abutres, ela disse ser um mau presságio.

Minha bisavó é a mulher mais velha da aldeia, sua idade não é absolutamente certa, pois ela não tem seus registros de nascimento, mas ao que ela diz tem quase 100 anos, mas é muito lúcida e forte para sua idade. É muito respeitada também.

–Emily, eu liguei porque semana que vem é a celebração das guerreiras e você deve vir, sua bisavó disse que será bom você vir e passar um tempo aqui.

Que cabeça eu tenho para festas agora?!

–Mãe eu não posso deixar o Sam como ele está, as coisas realmente não estão boas por aqui.

Mas ela insistiu.

–Filha, eu sei, mas sua bisavó diz que você deve vir, deve vir falar com os antigos espíritos do nosso povo e que com você deve trazer a mulher que teve o bebê morto, pois isso irá ajudá-la.

–Mãe não sei se a Bella está em condições de viajar, nem eu estou.

O telefone ficou mudo por alguns instantes, e logo a voz doce, serena e forte de minha bisavó é ouvida...

–Mas é por isso mesmo que você deve vir Emily.

Ela fala no dialeto Makai ainda, poucas vezes fala a língua “branca” como ela chama.

–Bisa... A senhora não entende, a Bella está sofrendo muito.

–Emily... Ela precisa saber o quanto é forte, precisa se conhecer e para isso ela deve vir, isso irá ajudá-la no caminho que ela deve seguir, e você também... Grandes acontecimentos virão e vocês devem estar preparadas.

Me calei pensando no que ela falou, suspirei...

–Vou tentar convencê-la a ir, mas não será fácil.

–Ao contrário minha filha, ela irá aceitar...

Sempre respeitei muito as tradições de minha tribo, contudo me pergunto onde Bella se encaixa nisso tudo, porque essa insistência de que ela vá? Me despedi de minha bisavó e de minha mãe com a promessa de que eu e Bella estaríamos a caminho, só não sei como convencê-la.

Olhei para o Sam quietinho no sofá e fui até ele me sentando ao seu lado, acariciando seu cabelo, ele me olhou, seus olhos ainda vermelhos, mas esboçou um leve sorriso.

–Estou bem. Era minha sogra?

Eu sorrio levemente.

–Sim... E a sua fã, a minha bisa...

Minha bisavó sempre adorou o Sam.

–Elas querem que eu vá para a celebração...

Sam assentiu com a cabeça.

–É bom você ir Emy, rever sua família, dá um tempo disso tudo, eu vou ficar bem.

Respirei profundamente, ele se ajeitou deitando com a cabeça em meu colo e eu acariciei seus cabelos.

–Elas querem que eu leve a Bella.

Ele fica calado, mas volta a me olhar.

–Talvez seja bom ela ir, ajude ela e o Jacob a superar, o amor deles tem uma prova muito grande Emily, sempre teve, foi testado antes de ela se unir a ele, antes do imprinting e agora novamente... Quando você tem que ir?

–Minha bisavó quer que eu passe pelo menos uma semana lá, acho que será uma reabilitação para a Bella, não sei.

Ele ficou pensativo.

–Entendo... Então a celebração vai ser na mesma noite da reunião.

Me curvei beijando levemente seus lábios.

–Sam, se você quiser eu não vou.

–Não! Nem pensar Emily, se é importante a sua presença então vá, eu ficarei bem, e seja o que o conselho decidir estarei pronto... Talvez me aposentar não seja tão ruim assim, vamos ter a nossa lua de mel, pensei em irmos para Vegas, o que você acha?

Ele deu um fraco sorriso, sei que diz isso para me convencer de que estará bem, mas a verdade é que ele não vai estar pronto para isso, finjo acreditar nele e novamente beijo seus lábios, ele me segura um pouco mais forte e eu aprofundo nosso beijo sentindo seu gosto único, senti saudade de beijá-lo assim, com essa paixão, com todo esse amor, quando terminamos eu respirava com dificuldade, ele me olhou zombeteiro.

–Ainda deixo você sem ar hein...

Lhe dou um tapinha me levantando.

–Vou tomar um banho e ir até a casa da Bella falar com ela, só espero conseguir que ela vá também.

–Você vai conseguir.

Eu vou andando, subindo as escadas para o nosso quarto enquanto ele me olha... Há um bom tempo, desde que as coisas aconteceram, não fizemos amor, já estava com saudade desse olhar de malícia dele. Ele dá um pulo do sofá.

–Hum, me deu um calor agora, acho que vou tomar um banho.

Ele vem sorrindo, me agarrando e me dando beijos na nuca, subimos juntos e logo estávamos debaixo do chuveiro.

*****************

Cheguei a casa da Bella e do Jacob e o encontrei na garagem arrumando o carro, fui até ele devagar, quando ele se virou abriu um lindo sorriso me abraçando com força.

–Emily... Eu estava morrendo de saudade.

Ele me solta e eu fico vendo seu rosto, seus olhos estão sem brilho e tristes, ele tem olheiras, sua barba por fazer o deixa com um ar sofrido, eu e Sam estamos proibidos de nos aproximar dos meninos, mas as vezes eu os vejo escondido de todos.

Acaricio seus cabelos.

–Jacob, também estava morrendo de saudade, Sam mandou lembranças.

Ele suspira.

–Como ele está?

–Bem... Da boca pra fora ele está animado com uma aposentadoria e faz planos de uma lua de mel em Vegas, mas a verdade é que ele está sentindo muito a falta de vocês, ele tenta ser forte, você conhece o Sam, mas ele está sofrendo muito.

Ele abaixa a cabeça tristemente.

–Eu sinto muito Emily, não sabia o que poderia acontecer...

Eu vou até ele que está encostado no carro e seguro sua mão.

–Meu querido, eu sei, Sam também entende, mas Jacob, você deve entender que não pode ficar se culpando, você sempre amou muito a Bella, seu lobo viu que seu amor por ela era como um imprinting, você antes mesmo do imprinting era capaz de tudo por ela, ele a aceitou naquele momento em que você se transformou para defendê-la do Paul, ali o lobo já dizia que ela era dele...

Ele nega...

–Mas se ele não tivesse imposto a vontade dele eu a teria deixado com os Cullens, aquele desgraçado não teria matado nosso filho.

–E você conseguiria ficar longe dela? Conseguiria ficar longe dela e do seu filho, seria justo Jacob deixar a mulher que ama e seu filho naquela casa ao lado daqueles monstros?

Ele murmura um não.

–Mas agora é tarde Emily, o que está feito está feito, ele não vai mais voltar, e na próxima reunião eu irei e direi ao conselho que o Sam deve continuar como Alfa, acho que minha palavra deve valer alguma coisa ainda.

Jacob é o mais cabeça dura de todos, nem o Sam é tão teimoso quanto ele, mas ele acha que devemos deixar o Jacob em paz, ao menos até a próxima reunião, pois Sam voltando ao posto vai fazer o Jacob mudar de opinião e o Sam diz saber como trazer o lobo do Jacob de volta mesmo ele teimando em não querer.

Mas eu preciso falar com ele sobre a viagem que faremos hoje a noite.

–Jake, você sabe sobre a celebração que participo todos os anos na minha reserva.

Ele parece se animar um pouco.

–A reunião das feministas de Makai.

Dou um tapinha nele que pelo menos ri um pouco.

–Não fale assim, você sabe que é uma celebração importante para as mulheres da minha tribo, semana que vem será a celebração e eu terei que ir, por mais que eu tentasse não poderei faltar, pois minha presença é importante, minha família quer que eu vá antes da celebração, por isso irei hoje mesmo.

Ele fica prestando atenção.

–E você quer que eu seja babá do Sam? - ele ri.

–Não deixaria nenhum de vocês como babá dele em minha sã consciência, ainda me lembro de como de repente a minha cozinha estava com uma pintura nova e ganhei um sofá novo, já que meu amado noivo junto com os seus queridos irmãos tacou fogo no sofá e destruíram a cozinha.

Ele fica sério, mas tem um sorriso torto.

–Ei, foi um acidente, mas veja pelo lado positivo, pelo menos você ganhou uma cozinha nova e um jogo de sofá.

Nós rimos e ele me abraça apertado.

–Você não imagina como me faz bem Emily...

–Se Sam, o ciumento, escuta isso ele iria ficar com cara feia por uns três dias.

–Ah é verdade, ciúmes está no sangue da nossa família Lupina.

Eu me desvencilho do seu abraço carinhoso, Jacob estava muito carente, mas aproveitando nosso momento de tranquilidade resolvi lhe contar sobre a viagem.

–Quero te pedir uma coisa, minha família acha que seria bom a Bella ir, que isso faria bem a ela, a vocês dois, deixa ela ir comigo?

O riso dele some e ele fica sério, seus olhos voltam a adquirir um ar triste.

–Se ela quiser ir... Não estamos nos falando Emily, ela me evita, nem dormimos mais no mesmo quarto, parecemos dois estranhos, ela está sempre no quarto do Dean mexendo nas coisas dele, fica horas lá olhando o nada, abraçada as coisas dele, eu já não sei mais o que fazer.

Continuei segurando em sua mão, pensei que ele seria feliz, que tudo ficaria bem, porém mais uma vez o maldito sanguessuga entra em seu caminho dando dor a ele, o separando de quem ele mais ama, só que agora esse sofrimento é maior, com feridas profundas difíceis de cicatrizar.

–Vai ser bom para ela essa viagem Jake, se afastar de todas essas lembranças, ela se culpa Jake, apenas isso, ela precisa entender que não foi culpada de nada, Bella ainda ama muito você, o mal jamais vai vencer o amor Jacob.

Ele assente concordando que seja melhor mesmo esse tempo para ambos. Dei mais um abraço e um beijo carinhoso nele e fui falar com ela, a casa estava silenciosa, eu sabia onde ela estaria... No quarto do Dean. E como imaginei foi onde eu a encontrei, sentada em uma cadeira olhando para o nada em frente a janela. O quarto ainda era mantido da mesma forma, arrumadinho, ao lado do bercinho um criado mudo com um porta retrato com ela, Jacob e Dean, todos sorrindo felizes. Caminhei até ela a chamando, ela se volta para mim, tristemente.

–Oi Bella...

Fui até ela abraçando-a.

–Oi Emily, que bom que veio.

Ela se vira para a janela novamente como se eu não estivesse ali. Segurei em sua mão chamando silenciosamente a sua atenção e ela se voltou para mim.

–Bella, podemos conversar um pouco fora daqui?

Ela continuou do mesmo modo. Bella parece não estar viva, parece em outro mundo, e eu tenho que ser mais firme com ela.

–Bella... Estou falando com você!

Ela me olha.

–Eu não quero conversar Emily, não estou a fim. - disse se voltando para a janela, por mais que me doesse ela precisava de uma dura, me levantei indo até ela, ficando em sua frente.

–CHEGA! CHEGA DESSA LAMENTAÇÃO BELLA! Ele se foi, mas você está viva, Jacob também e enquanto você está aqui se lamentando, a matilha inteira está sofrendo... Sofrendo pelo Dean, por não poder fazer nada para vingar sua morte, sofrendo por estarem separados, sofrendo pelo Jacob e por você!

Eu segurava seus braços fortemente, a princípio ela se assustou, mas começou a corar se levantando rispidamente.

–Mas eu o matei Emily! Você me pediu para voltar, lembra? Eu não voltei Emily, eu abri a porta para eles, não ouvi você nem o Jacob...

–Mas você não foi culpada Bella, eles te enganaram, usaram a amizade, o carinho que você sentia por eles... Bella, eles enganaram você.

Fui até ela que chorava.

–Bella você precisa voltar a viver, a reagir.

–Como Emily? SE CADA SEGUNDO DA MERDA DA MINHA VIDA EU ESCUTO OS GRITOS DO DEAN!

Ela se desespera chorando, caindo sentada no chão, caminhei até ela segurando seu rosto fazendo-a olhar para mim.

–Eu posso imaginar o quanto isso dói, mas você dessa maneira não melhora em nada, Jacob está sofrendo por você estar distante dele, não falo para você esquecer o Dean, eu também o vejo em cada lugar lá em casa, tenho brinquedos dele, até algumas roupinhas, mas ele não vai voltar e você se condenando não vai trazê-lo de volta.

Ela me abraçou chorando copiosamente e eu acariciava suas costas a consolando.

–Minha amiga, você precisa voltar a viver, precisa caminhar, precisa ajudar o Jacob... Bella, o Jacob está arrasado, ele deixou o lobo dele, ele precisa que você se fortaleça.

Ela sai de meu abraço.

–Eu o amo Emily, o amo demais, mas não consigo ficar perto dele, não consigo aceitar seu carinho, de uns tempos para cá é como se... Eu não sei explicar, é como se algo me afastasse dele, cada dia mais eu me sinto afastada dele, não sei o que fazer, me ajuda, por favor.

Eu a abracei novamente.

–Shh, tudo bem... Tudo vai ficar bem...

Não sei por quanto tempo ela ficou chorando, mas parecia estar descarregando sua dor... Bella era uma menina que caiu em um mundo louco de vampiros e lobos, ela caminhou por uma estrada fria e sem vida, desejou ser uma imortal, recusou a vida, mas quando conheceu o amor verdadeiro que nasceu através de uma amizade e que esse amor lhe mostrou uma vida diferente, alegre, lhe deu uma família feliz, ela mudou de opinião, não quis mais seguir pelo caminho frio, mas sua escolha no passado veio lhe cobrar e o preço foi alto demais.

Ela se acalmou e elevou o rosto, eu a olhei sorrindo.

–Tenho uma sugestão, tome um bom banho, eu vou até sua cozinha preparar algo para nós duas e então conversaremos.

Ela assentiu, fui saindo do quarto, deixando Bella a vontade, me deparei com o Jacob parado na porta, ele ficou sem graça, deve ter ouvido nossa conversa.

–Como ela está? - perguntou apreensivo.

Eu seguro em seu braço.

–Ela vai ficar bem, agora vamos até sua cozinha, vou preparar algo para minha amiga e meu menino comerem.

Jacob me mostrava onde estava tudo e decidi fazer omelete de queijo para eles, eu estava terminando o preparo enquanto Jacob estava sentado a mesa.

–Você acha que ela vai melhorar? Que vai voltar a ser a minha Bells?

Fui até ele limpando minhas mãos no pano de prato.

–Ela me pediu ajuda Jacob, isso é um bom começo.

Ele sorriu, levemente, mas sorriu.

Jacob me ajudou a colocar a mesa e enquanto eu o servia Bella chegou, ela nos olhou dando um sorriso fraco, mas o suficiente para fazer Jacob sorrir.

–Bells... Venha, sente aqui, Emily fez omelete.

Ele se levanta puxando uma cadeira para ela... Bella se senta e ele a serve.

–Está uma delícia Bells, experimenta, você vai adorar. - Jacob estava realmente feliz, entusiasmado, Bella pegou um pedaço o levando a boca.

–Nossa, está realmente muito bom, obrigada Emily.

Jacob abriu um grande sorriso, seus olhos voltaram a brilhar, me sentei junto com eles, mas eu não mudaria o meu propósito.

–Bella, semana que vem terá a celebração da minha tribo e eu não posso faltar, minha família e eu gostaríamos muito que você fosse.

Ela me olhou tristonha.

–Emily, não estou com clima para festas...

–Amor, será bom você sair um pouco daqui.

Olhei para o Jacob pedindo calma com o olhar, ele entendeu e ficou calado.

–Bella, não é apenas uma festa, é praticamente um ritual, minha família quer muito que você vá, e disseram que isso vai ajudar muito você.

Ela permaneceu calada e eu insisti.

–Você e seu espírito precisam de um pouco de paz.

Jacob mantinha sua mão sobre a dela, ela a retirou, suspirou e me olhou.

–Eu vou, talvez você esteja certa, quando vamos?

Eu sorri agradecendo mentalmente aos espíritos por isso.

–Hoje a tarde, amanhã de manhã já estaremos lá, vamos de carro, vai ser muito bom, você vai voltar outra pessoa, te garanto.

Ela sorri levemente.

–É tudo que eu mais quero.

De uma coisa eu tenho certeza... Bella não será a mesma, eu sinto isso, sinto que algo novo está por vir.



POV Embry

Estou um caco!

Tão cansado, meu corpo está dolorido pelas noites recentes mal dormidas, a pequena cama da Leah não é o suficiente para nós dois, o que me faz sempre recorrer a poltrona que fica no seu quarto, minha cabeça dói, reflexo por não me transformar nessas duas semanas, ou dor de ver a Leah sofrer e não conseguir fazê-la melhorar? Ela está arrasada por não ter conseguido chegar a tempo de salvar o Dean, mesmo Jacob lhe dizendo que não é sua culpa, ela sofre por isso, e somando ao fato de não nos transformarmos a deixa mais frágil sentimentalmente sem o auxílio da sua loba para ajudá-la a superar o sofrimento.

Cheguei arrastado em casa, ligado no automático, mamãe estava na varanda como faz todas as manhãs, sentadinha bebendo sua xícara de café, ao me ver ela sorri, me jogo em seus braços e entramos juntos.

–Já comeu alguma coisa? - ela me pergunta cuidadosa. Sempre com um sorriso no rosto.

–Já, Sue me fez tomar café antes de sair da casa dela.

–E Leah, como está?

Mamãe gosta muito da Leah, quando ela soube do meu imprinting por ela ficou muito feliz, as duas até que se dão muito bem, estavam sempre rindo e conversando, Leah se diverte com minha mãe que é uma mulher muito alegre, que pouco está se lixando para as pessoas e suas opiniões.

–Ela dormiu, espero que não tenha pesadelos como nos últimos dias, deixei ela com o Seth.

Seth me ajuda com Leah, não saímos do lado dela, ele está tão confuso e sempre me pergunta o que vai ser de nossa matilha sem o Jacob e sem a liderança do Sam, também me pergunto isso.

Mamãe toca minha mão, carinhosa.

–Não está sendo fácil para ninguém Embry, mas não podemos perder a fé filho, as coisas vão melhorar, tenho certeza disso.

Eu realmente espero que ela esteja certa, pois não aguento mais tudo isso, a culpa de Leah sobre ela mesma, ficar longe dos irmãos, longe da Emily, do Sam. Ver como o Jacob e a Bella estão, não é possível que tudo que fizemos tenha sido em vão, nós cumprimos o nosso dever, Bella fez uma nova escolha e mesmo que seja para o bem, somos punidos. Confiamos demais, fomos perfeitos demais, tivemos caráter, isso é errado? Já não sei o que é certo ou errado, ser bom ou ruim.

Me levanto dando-lhe um beijo sobre sua face.

–Vou descansar um pouco, mas qualquer coisa me chama mãe.

Ela assente, vou para o meu quarto direto ao meu banheiro tomar um banho demorado, encosto minha testa no azulejo frio do banheiro e deixo a água morna cair sobre mim, tentando em vão relaxar os músculos doloridos, fecho meus olhos e lembranças de tempos felizes vem na minha mente, alguns não tão felizes como quando fiquei sabendo que minha mãe havia tido um caso com o pai do Sam, e que eu e ele éramos irmãos, nunca pensei nele, nunca quis saber sobre ele, minha mãe e seus carinhos e amor não davam brecha para que eu sentisse a falta de um pai ou sequer quisesse saber algo dele, por mim dane-se se ele não me quis.

Quando soube quem ele era, o Velho Ateara me contou assim que me transformei, pois foi uma surpresa para todos que de alguma maneira seus pais tenham pulado a cerca com a minha mãe, mas não para o Sam, ele sabia que o pai dele era meu pai também, por ele ter o abandonado da mesma forma que fez comigo, quando o senhor Ateara confirmou a suspeita dele, ele apenas assentiu, não falou nada na hora, mas uma noite enquanto fazíamos a ronda e ele me treinava, nós voltamos, estávamos encharcados pela garoa fina que caía, Emily nos recebeu com um prato quente de sopa e enquanto comíamos ele disse:

–Tenho vergonha pelo que meu pai fez a você e a sua mãe.

Logo após falar isso ele se levantou e saiu indo para o quarto dele, eu sei que deveria ter dito alguma coisa, mas me calei, nós adiamos essa conversa até hoje, apesar de saber que quando me olha por um longo tempo sei que ele quer falar comigo sobre esse assunto, mas acaba se calando e eu também me calo, agora que soube que ele foi afastado, isolado, imagino como deve estar, tenho vontade de ir até ele, sentar ao seu lado e fazer companhia, sem precisar dizer nada, gostaria de chamá-lo de irmão, mas não de matilha, será que ele me receberia bem? Será que me aceitaria como seu irmão de sangue?

Terminei meu banho, me vesti e liguei o som baixinho, me deitando e olhando o teto, me forçando para parar de pensar em coisas desagradáveis e dormir, mas quando estou prestes a entrar no mundo dos sonhos senti a presença da minha mãe atrás da porta, fiquei um tempo na expectativa de ela bater e eu dizer pra ela entrar, mas acho que ela pensou que eu estava dormindo e foi saindo, respirei fundo, joguei um braço sobre os olhos e novamente quase começando a dormir escuto leves passos e o cheiro dela novamente.

Que diabos! E novamente ela hesita, quando ela foi saindo me levanto indo até a ponta rapidamente, ela queria me falar alguma coisa, mas estava receosa.

–Mãe, quer falar comigo?

Ela se assusta, mas se volta rindo.

–Que susto Embry! Achei que estivesse dormindo.

Dei um sorriso.

–Ainda não, a senhora tem alguma coisa para falar?

Ela queria algo, olhei e na sua mão havia um livro, ela reparou que eu olhei para o conteúdo em suas mãos e sorriu vindo em minha direção, abri passagem a ela para que entrasse em meu quarto e ela se sentou em minha cama, eu a acompanhei sentando ao seu lado e alguma coisa me dizia que era o assunto era sério.

Minha mãe nunca foi de fazer rodeios e por isso foi direto ao ponto, até porque ela sabe que sou bem curioso.

–Embry, faz alguns dias que eu estou para falar com você já que algumas coisas você ficou sabendo e aceitou bem, então acho que isso você também irá aceitar, até porque não é nada de grave.

Eu a olhava sério me perguntando o que é que vem agora.

–Quando você nasceu foi na mesma hora que Charles Uley avô do Sam e seu também havia chegado na reserva, o senhor Ateara ficou sabendo sobre eu e o filho dele e que me abandonou grávida então contou a ele, eu estava com você ali em meus braços, você havia acabado de mamar e estava adormecido, quando ele entrou no meu quarto eu me assustei com aquele homem forte e imponente, Sam se parece muito com ele, então ele se apresentou dizendo quem era...

Nessa hora ela parou de falar, esperando a minha reação, eu seguro sua mão sorrindo dizendo:

–Continue mamãe.

Ela continua com um sorriso.

–Ele viu você nos meus braços e perguntou se era um menino ou uma menina, eu disse que era um menino, os olhos dele brilhavam, fiquei feliz em ver o sorriso daquele homem e o brilho dos seus olhos, ele me pediu para pegar você no colo e eu deixei, ver um homem daquele tamanho tão imponente chorando como um garotinho é uma coisa que nunca vai sair da minha memória, ele falava com você te chamando de neto, perguntou se eu já tinha escolhido seu nome e eu disse que não, então ele sugeriu que te chamasse de Embry, pois era o nome do pai dele.

Fico completamente bobo com isso, que nem consigo falar, vejo os olhos da minha mãe brilhando demonstrando toda sua emoção e eu acabo sentindo o mesmo.

–Ele sempre ia nos ver, ele adorava você Embry, estava sempre com você no colo ainda bebê te contando sobre os grandes lobos, coisas que eu achava ser apenas lendas, um dia ele veio, um final de semana, ele geralmente não ficava tanto tempo fora daqui, mas nesse dia passou a semana inteira, disse que tinha algumas coisas para resolver e queria aproveitar para passar um tempo maior com você, antes de ir embora ele me entregou esse livro, disse que estava em sua família a gerações, e que ele gostaria que você ficasse com ele, eu deveria te entregar quando você crescesse, era o seu bem mais precioso.

Peguei aquele livro das mãos da minha mãe que a essa altura tinha lágrimas nos olhos, não esperava por isso, me pegou de surpresa saber que Charles Uley me amava tanto e me tinha como um neto tão legítimo quanto Sam, no fim eu estava emocionado.

Mamãe enxugou as lágrimas enquanto eu olhava aquele grande livro parecendo como aqueles das histórias de bruxas.

–Uma semana depois o senhor Ateara me ligou dizendo que ele havia falecido, no mês seguinte nós viemos para cá e estamos aqui até hoje, ele havia comprado essa casa para nós e deixou um bom dinheiro para que eu cuidasse bem de você.

Ela sorriu. Eu ainda estava prestando atenção no livro, meus olhos não saíam dele.

–Porque só me entregou isso agora, mãe? Porque só agora me contou sobre ele?

Ela deu de ombros.

–Porque não estava preparada ainda para falar sobre ele, é muito doloroso Embry, sinto saudades dele, e sobre o livro acabei esquecendo ele em uma caixa lá no porão, achava que era apenas um livro velho, acabei esquecendo dele nesses anos. Estava arrumando algumas coisas quando o encontrei, me lembrei da promessa de entregar a você o livro, enfim... Agora ela está cumprida.

Ela se levanta acariciando meus cabelos e vai saindo.

–Mamãe, eu gostei muito de saber sobre isso, obrigado.

Ela sorriu da porta e se foi.

Me encostei na cabeceira da cama tocando a capa o livro, é de couro puro e negra, ele tinha muitas páginas, era pesado, suas páginas eram costuradas, o que demonstrava que era realmente bem antigo, as folhas de um papel cru, algumas amareladas pelo tempo, havia uma fivela, parece ser de prata, que serve para fechá-lo, realmente muito bonito, fui abrindo devagar e com cuidado, preso na primeira página havia um envelope... Escrito com uma linda letra caprichada, que tinha um tom formal que dizia...

Para: O senhor Embry Call

De: Charles Uley

–Nossa! - exclamei alto, me sinto importante, não consigo conter um sorriso. Abro o envelope e começo a ler o conteúdo da pequena carta.


“Embry...

Se estiver lendo essa carta nesse momento já deve ser um rapaz e com certeza já deve saber que as lendas que eu contava a você quando era um bebê são verdadeiras e que você faz parte delas.

Gostaria de estar ao seu lado nesse momento, para poder explicar tudo, sanar suas dúvidas, segurar sua mão a fim de conter teus medos, eu sei meu neto, é estranho e as vezes é pesado carregar isso, mas não é para todos, somente aqueles que são fortes terão esse privilégio e eu vi sua força, tão pequenino e já tão forte. Sei que não estou presente, mas fico em paz e tranquilo, ao seu lado terá seu irmão Sam, ele irá te ajudar, teu irmão é um líder, siga os passos dele sempre, se mantenham unidos apesar de teu pai negar te dar o nosso nome ele não pode negar o sangue que você carrega, o de nossa família, você é meu sangue Embry.

Embry você precisa saber da sua importância, cada lobo dessa matilha é uma pedra fundamental, vai desde o Alfa legítimo até os que se destacam por sua força, outros pela sabedoria, outros pela coragem e assim por diante. Sam é um guardião da matilha, ele guarda o posto do Alfa legítimo, impedindo que outro lobo queira tomar para si o posto de Alfa, sempre foi de nossa família esse cargo e temos orgulho disso, e você meu neto tens seu posto também, ninguém sabe, é um segredo que apenas os guardiões de nossa família sabem, assim como Sam você também tem seu cargo, tão ou mais valioso que um Alfa, você é o guardião de todos os segredos da matilha, toda sua história está nesse livro... Nesse livro, meu neto, estão segredos importantes, nesse livro está o relato e as leis de todos os Alfas, e você ficará responsável para que as façam cumprir.

Cuide bem desse livro, nesse tempo quem escreverá as histórias será você, passe a seus descendentes assim como fiz com você.

Que os Deuses protejam a você e ao seu irmão Sam, a caminhada é longa e dolorosa, quando você sentir que está fraco, cansado demais para continuar, não desanime, eu estarei sempre com vocês, você e o seu irmão são o meu maior amor.

Charles Uley.”

Eu estou quase chorando, mas havia algo mais dentro do envelope, retirei e era uma fotografia, um senhor que é muito parecido com o Sam estava na foto com um bebê em seu colo e ao lado do bebê sorrindo com o braço em volta do bebê, a cabeça caída sobre o pequenino ombro, um garotinho que deveria ter uns cinco anos... Estavam sentados em uma entrada de uma casa, virei a foto e vi a descrição...

Charles Uley com seus netos Sam Uley, 4 anos e Embry Call Uley, 7 meses.

Não consegui impedir mais as lágrimas e chorei de emoção diante daquele homem que estava tão feliz junto com seus netos, um deles sou eu, nunca imaginei que alguém dos Uley me amasse tanto... Que tivesse tanto carinho por mim e me considerasse da família, ele levou o Sam para me conhecer, provavelmente o Sam nem lembra disso, nem deveria saber que eu era seu irmão, mas me abraçava com muito carinho.

–Obrigado vô... Uma pena a gente não ter ficado mais tempo juntos. Teria sido incrível.

Enxuguei as lágrimas e abri o livro, e nele estava tudo em Quileute, isso iria ser demorado, mas comecei a ler, muitos relatos sobre a batalha contra os frios, muitas coisas escritas por Tahaki.

Olho o relógio e vejo que já se passou quase o dia inteiro e eu aqui lendo, mamãe veio e me trouxe um lanche, mostrei a carta e a foto a ela, e ela me disse que se lembrava desse dia, meu avô chegou com o Sam, ela me disse que Sam brincou o tempo todo comigo, meu avô disse ao Sam que eu era o amiguinho dele e que Sam antes de ir embora perguntou se eu poderia ir com ele e me deu um beijo no rosto antes de ir.

Mamãe disse que Seth ligou avisando que Leah ainda dormia e eu agradeci por isso, agora estava lendo sobre após a batalha e algo me chamou a atenção. Comecei a ler mais profundamente, era um dos muitos relatos de Tahaki, mas esse era diferente, Tahaki dizia que estava preocupado, pois seu filho morto pelos frios seria o seu sucessor e que agora que ele estava em uma idade avançada e não poderia se transformar estava preocupado, pois não havia ninguém para ser o Alfa, continuei lendo e a cada linha que eu lia mais eu me surpreendia, parei e comecei a raciocinar, vendo a próxima página.

–Oh merda! Merda! Merda!

Repeti sem parar me levantando indo vestir uma bermuda melhor e uma camiseta.

–O senhor Cameron e o Velho Ateara tem que ver isso...

Saio do meu quarto correndo com o livro debaixo do braço, chego no quintal onde minha mãe está recolhendo as roupas.

–Mãe, estou indo na casa do Jared, preciso falar com o senhor Cameron, se o Seth ligar diz pra me encontrar lá.

Ela me olha assustada.

–Embry, o que aconteceu?

Eu não consigo falar.

–Mãe depois eu te explico, mas agora é urgente.

Saí correndo feito um louco, pensando em tudo, caramba isso estava o tempo todo debaixo do meu focinho. Cheguei a casa do Jared feito um louco e bati na porta com urgência, chamando o Jared, ele veio abrir a porta assustado.

–O que aconteceu irmão? - Jared me pergunta assustado.

–Eu preciso falar com seu pai, Jared você nem faz ideia do que eu acabei de descobrir.

–Cara, entra, ele está lá dentro com o Velho Ateara.

Ótimo, mato dois coelhos de uma vez, entrei e eles estavam na sala e ao ver meu jeito maluco que entrei eles se levantaram assustados.

–Senhor Cameron. Senhor Ateara, vocês precisam ver isso. - apontei para o livro.

O senhor Cameron me olhou confuso.

–Do que se trata?

Eu entrego o livro em suas mãos e começo a falar.

–Minha mãe recebeu esse livro do Charles Uley, ele disse que deveria me entregar, pois eu sou seu guardião, esse é um livro com todas as leis, regras, nele contêm relatos de Tahaki e de outros Alfas.

Mostrei a carta a eles que leram e me olharam surpresos.

–Você sabia disso Ateara? - o senhor Cameron perguntou a ele.

–Não! Estou tão surpreso quanto você, Charles era meu melhor amigo, mas nunca me disse sobre esse livro.

Ele me olhava surpreso, enquanto o senhor Cameron folheava o livro fui até ele.

–Aqui nessa página, começa aqui.

Eles começaram a ler e eu via o Senhor Cameron se sentando aos poucos no sofá e lia tudo em Quileute em voz alta, o velho Ateara tirou os óculos a medida que ia escutando tudo, abaixando sua cabeça enquanto o Jared e a Kim não entendiam nada.

No final o senhor Cameron ficou mudo, e o senhor Ateara estava bastante surpreso, ele se levantou.

–Ateara... Meu Deus, isso é... Eu nem tenho palavras.

O senhor Ateara tentou se levantar, mas pareceu estar tonto e voltou ao seu lugar, corremos até ele preocupados, Kim imediatamente foi buscar um pouco de água enquanto nós estávamos ao seu lado preocupados.

–O senhor está bem?

O senhor Cameron perguntou e ele balançava a cabeça assentindo que sim.

Kim veio com um copo de água.

–Estou bem meus filhos, só não esperava viver para saber de uma coisa dessas.

O senhor Cameron se pôs sério.

–Precisamos fazer uma reunião com toda a matilha, inclusive Sam e Jacob, dane-se a proibição do conselho. Com esse livro teremos uma arma para enfrentar o conselho, o jogo virou, agora nós daremos as cartas.

O senhor Cameron sorriu me olhando... Começou a ficar interessante.



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